Título: Agências reguladoras precisam mudar
Autor: Diniz, Débora
Fonte: O Globo, 19/08/2012, Economia, p. 45

Economista defende que trabalho deve ser politicamente isento

Atrair o investimento privado é essencial para que o Brasil atinja um patamar satisfatório de investimentos em infraestrutura. Mas boa intenção não basta. Mudanças estruturais e estratégicas precisam ser feitas para que o país se aproxime do que o economista Claudio Frischtak chama de "crescimento decente": algo em torno de 4% ao ano, no mínimo. Uma das primeiras medidas é o aperfeiçoamento das agências reguladoras.

- Elas precisam ser técnicas e politicamente isentas. Além disso, devem ser rigorosas quanto aos princípios de transparência - diz o economista. Hoje, o processo estaria prejudicando porque muitas ainda estão arrumando a casa, após o conturbado início de governo, abalado por escândalos em áreas consideradas cruciais, como o transporte.

Para mobilizar o investimento privado, o estudo da Inter.B considera indispensável a definição de estratégia clara e planejamento de médio e longo prazos para os segmentos de energia, transportes, mobilidade urbana e saneamento. Outra medida é ampliação de leilões e concessões com a participação privada, a exemplo do pacote anunciado na última quarta-feira pela presidente Dilma Rousseff para rodovias e ferrovias. A escolha do segmento de transportes como ponto de partida para o programa lançado pelo governo, aliás, tem a aprovação de Frischtak, que considera esta a área mais frágil na cadeia de infraestrutura.

PAC devia ter sido diferente

O estudo mostra que era do PAC trouxe um incremento no investimento. De 2008 a 2011, o avanço foi de 0,45% do PIB em relação a 2007. Para o economista, o crescimento é expressivo, mas teria causado um reflexo mais perceptível se, em vez do governo, tivesse sido conduzido pelo setor privado.

- Um crescimento de quase meio ponto percentual em poucos anos é muito positivo, mas o governo não teve condições de mantê-lo. Se o primeiro PAC tivesse sido feito com a parceria da iniciativa privada, o resultado seria muito melhor - compara Frischtak.

De acordo com o estudo da Inter.B, o histórico das economias emergentes bem sucedidas mostra que os investimentos em infraestrutura impulsionam o crescimento em médio e longo prazos. Os recursos são fundamentais para a modernização do país e permitem que a economia se mantenha em níveis elevados por muitos anos. Nesse aspecto, o Brasil segue na contramão. Comparado aos anos 70, houve queda de 58% no volume de investimento frente ao PIB. (D. D.)