Título: Brasil fica em último lugar em estradas pavimentadas
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 19/08/2012, Economia, p. 44

Só 12,5% das estradas brasileiras são asfaltadas. Índice é de 64,5% nos EUA e de 47,4% na Índia

Se a concessão de rodovias anunciada pelo governo foi comemorada pelos empresários, está longe de ser uma panacéia. O Brasil é lanterna no ranking dos grandes países em relação ao total de estradas pavimentadas. Países tão extensos quanto nós estão em situação melhor. No Brasil, há 220 mil quilômetros de estradas asfaltadas, ou 12,5% da total de 1,7 milhão de quilômetros.

Segundo pesquisa de Geraldo Aguiar de Brito Vianna no livro "O Mito do Rodoviarismo no Brasil", nos EUA, que tem malha de 6,5 milhões de quilômetros, 64,5% são asfaltados. A Índia, com 3,4 milhões de quilômetros, tem 47,4% pavimentados, ou 1,7 milhão de quilômetros - o equivalente à malha total do Brasil. Na China, o índice é de 81%; no México, 49,5%; na Austrália e na Turquia, 41,6%; e na Rússia, 84,7%.

- O Brasil tem dois grandes desafios a enfrentar, melhorar a qualidade dos corredores e pavimentar mais de um milhão de quilômetros. Dizer que o Brasil é um país rodoviarista é uma falácia. O Brasil não é rodoviarista, nem ferroviarista, não é nada - disse Moacyr Duarte, presidente da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR).

Risco de maior desigualdade

Para Paulo Resende, especialista em logística da Fundação Dom Cabral, ao ampliar fortemente as concessões, há o risco de, se o governo não investir em outras estradas, aumentar a desigualdade:

- Sem outras rotas em boas condições, as estradas com pedágio podem ter ainda mais movimento. No Brasil, a infraestrutura não leva o desenvolvimento às regiões. Ela é feita para suprir a demanda de onde já há desenvolvimento.

O advogado Álvaro Jorge, sócio do escritório Barbosa, Müssnich & Aragão, lembra que nem o pacote de concessões está a salvo:

- Até as estradas concedidas não melhoram como esperamos, muitas vezes, por problemas legais. Uma licença ambiental pode demorar dois anos para sair. O governo precisa criar um responsável para o gerenciamento dos projetos na área governamental após leilão de concessão.

Paulo Fleury, diretor do Instituto de Logística e Supply Chain, lembra que algumas das concessionárias que podem pleitear novas rodovias não fizeram o que deviam.

- Por falta de uma regulação mais rígida do setor, algumas das concessionárias não investiram no que deveriam para duplicar via ou reparar problemas com asfalto - diz Fleury. (Henrique Gomes Batista e Daniel Haidar)