Título: BC compra dólares e impede que cotação fique abaixo de R$ 2
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 22/08/2012, Economia, p. 24

Após leilão de US$ 350 milhões, moeda tem alta de 0,1%, a R$ 2,018

O Banco Central (BC) retomou ontem uma antiga queda de braço com o mercado financeiro em torno da taxa de câmbio. Pela primeira vez desde o fim de março, a autoridade monetária fez um leilão de compra da moeda americana no mercado futuro - uma operação conhecida como swap cambial reverso - para impedir que o dólar voltasse a ser negociado abaixo de R$ 2, o que não acontece desde o início de julho. Depois de recuar 0,45% no início da manhã, cotado a R$ 2,007, o dólar comercial passou a avançar 0,40%, refletindo a atuação do BC, a R$ 2,024. No fechamento, a moeda teve uma alta menor, de 0,10%, cotada a R$ 2,018.

Segundo especialistas, uma nova rodada de intervenção do BC no mercado futuro de câmbio pode acontecer nos próximos dias. Isso porque a autoridade monetária só colocou no mercado sete mil dos 50 mil contratos de swap oferecidos. Foram US$ 350 milhões comprados, de um total de US$ 2,5 bilhões da oferta. Um volume maior de contratos não teria sido fechado porque o mercado cobrou uma taxa alta para aceitar a operação, e o BC acabou rejeitando as propostas.

- O mercado também está fraco neste mês. Não existe demanda para uma oferta tão grande - afirma Felipe Pellegrini, gente da mesa de operações da Confidence Câmbio.

Dólar cai 1% frente ao euro

Para analistas, o BC impede a queda da taxa de câmbio como parte de uma ação do governo para ajudar a indústria brasileira. Ontem, o recuo do dólar na abertura dos negócios refletia o movimento das moedas no mercado internacional. O dólar caiu 1,04% frente ao franco suíço, teve queda de 1,02% em relação ao euro e de 0,48% frente à libra.

Sidnei Nehme, diretor-executivo da NGO Corretora, diz que, apesar da atuação do BC, a tendência da moeda seria aproximar-se do patamar de R$ 2,10 nos próximos meses.

- É possível que ainda não tenhamos tido todas as repercussões da crise internacional, e existem outras economias tornando-se mais atraentes que o Brasil aos olhos dos investidores - explicou Nehme.

No mercado turismo carioca, o dólar fechou ontem estável, cotado a R$ 2,13, na média.

Os investidores criaram expectativas positivas para as reuniões de líderes europeus esta semana na Grécia. O primeiro-ministro grego, Antonis Samaras, vai tentar convencer França e Alemanha de que cumprirá as exigências impostas ao país. O mercado também espera que o Banco Central Europeu (BCE) volte a atuar para reduzir o custo de financiamento dos países da região. Com isso, as bolsas europeias fecharam em alta.

Por aqui, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em baixa sob o peso das ações da Petrobras. O Ibovespa, índice de referência da Bolsa, recuou 0,62%, aos 58.917 pontos, após uma abertura em alta. No início da tarde, o Ibovespa chegou a superar a barreira dos 60 mil pontos, o que não acontecia desde maio deste ano.

Petrobras recua 1,58%

Segundo analistas, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, decepcionou investidores ao afirmar ontem que não negocia um reajuste do preço da gasolina com o governo. Os papéis preferenciais (PN, sem voto) da Petrobras, que chegaram a subir 1,44%, acabaram terminando o dia em baixa de 1,58%, a R$ 21,24.

- As ações vinham se recuperando nas últimas semanas na expectativa de um reajuste dos combustíveis, o que beneficia a Petrobras - explicou André Accioly, da ICAP Brasil.

Em Wall Street, o Dow Jones fechou em queda de 0,51%. e o Nasdaq recuou 0,29%. Já o S&P, mais amplo, caiu 0,35%.