Título: Grupo de Cachoeira é comparado à máfia
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Fonte: O Globo, 22/08/2012, O País, p. 6

Procuradora relata tentativas de ameaça e intimidação

BRASÍLIA Os procuradores da República responsáveis por denunciar à Justiça o grupo de Carlinhos Cachoeira aproveitaram o depoimento à CPI, ontem, para fazer uma analogia entre a organização criminosa do bicheiro goiano e as máfias italianas. Daniel de Resende Salgado e Léa Batista de Oliveira fizeram três referências à ação de grupos mafiosos na Itália, que desafiaram o Judiciário nas décadas de 80 e 90 e mataram autoridades constituídas para investigá-los.

Léa relatou episódios que, segundo ela, representaram tentativas de ameaça e intimidação, como a de uma mulher que entrou na sua casa, dizendo trabalhar lá. A procuradora recebeu dois e-mails com ameaças, um deles enviado pelo ex-cunhado e testa de ferro de Cachoeira, Adriano Aprígio. Ele foi preso em função desse e-mail. Fazer ameaças é característica de mafiosos, disseram. O silêncio é outra.

- A Operação Monte Carlo desvelou uma máfia, entranhada no Estado, com mecanismos de cooptação de agentes públicos. Um membro do grupo, quando se silencia na Justiça ou na CPI, objetiva escudar o grupo e seu líder. A sociedade ficou totalmente desprotegida com a cooptação do Estado armado - disse Léa, referindo-se ao envolvimento de policiais militares, civis, federais e rodoviários com a organização criminosa.

Léa listou características que, disse, permitem enquadrar a organização de Cachoeira como máfia: hierarquia, cooptação de agentes do Estado, controle territorial, organização armada (ao corromper forças policiais), ameaças a autoridades, chantagem, vazamento de informações sobre investigações em andamento e um silêncio "orquestrado" pelos integrantes do grupo na Justiça Federal de Goiás e na CPI.

Os investigados convocados a depor têm ficado em silêncio, amparados por habeas corpus dados pelo Supremo Tribunal Federal. É o que deve ocorrer hoje, nos depoimentos do ex-corregedor da Polícia Civil de Goiás Aredes Correia e do presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras Públicas, Jayme Rincón, tesoureiro de Marconi Perillo (PSDB) na briga pelo governo de Goiás em 2010.

Salgado citou o juiz italiano Giovanni Falcone, assassinado pela máfia siciliana, a Cosa Nostra, há 20 anos. Ele respondeu a um questionamento do relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), sobre a possibilidade de delação premiada:

- No caso da Cosa Nostra, a partir do caminho traçado por um dos arrependidos, chegou-se a conhecer a organização criminosa por dentro.