Título: Ele só pensa em eleição
Autor: Foreque, Flávia
Fonte: Correio Braziliense, 01/10/2009, Política, p. 2

Na agenda de Lula são cada vez mais frequentes os encontros com líderes partidários. Na pauta, a campanha de Dilma

Lula com Dilma: em reuniões privadas com aliados, presidente questiona políticos sobre cenários eleitorais e posições partidárias

Há duas semanas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma crítica velada à atenção dada por seus ministros à campanha de 2010. Diante de um salão lotado pelos integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), ironizou: ¿Pense em fazer uma reunião do ministério quando as pessoas estão pensando em ser governador, deputado, senador. A prioridade não é mais o governo¿. A agenda do chefe do Executivo e sua liderança política, entretanto, dão sinais de que Lula mantém foco semelhante.

Para garantir ampla base de apoio à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, sua candidata ao Palácio do Planalto, Lula tem realizado encontros(1) frequentes com as principais lideranças partidárias. O presidente assumiu o papel de articulador político do governo e se movimenta para viabilizar a campanha da ¿mãe do PAC¿. ¿Para Lula foi uma ótima tática: ele manteve a discussão centrada na ministra e o PT a reboque¿, afirma o cientista político Antônio Flávio Testa.

Aos poucos, Lula vai construindo a rede de apoio à petista. Em encontro recente com o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), Lula negociou mais uma vez o apoio do partido à candidata, fundamental para garantir espaço nos palanques estaduais. Temer, aliás, embarcou com o presidente para Copenhague, onde será escolhida amanhã a cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

Na tentativa de desmotivar a candidatura de Ciro Gomes (PSB-CE) ao Palácio do Planalto, o presidente recebeu, no mês passado, a cúpula do PSB em jantar no Palácio da Alvorada. Convencer Ciro Gomes a se lançar ao governo de São Paulo era peça importante para manter o caráter plebiscitário da disputa. A tática não deu certo e Ciro já aparece como pré-candidato a presidente.

Aliança Atento a uma possível aliança entre Ciro e o PDT, Lula fez mais um movimento. O presidente da legenda, deputado Vieira da Cunha (RS), se reuniu com o petista para debater a construção de um memorial. ¿Nosso encontro foi basicamente sobre esse projeto. Mas ele queria saber informações sobre as posições do PDT. Ele fez mais perguntas do que deu opiniões¿, afirma o parlamentar. Segundo Cunha, Lula ainda questionou o apoio do partido à candidatura do ministro da Justiça, Tarso Genro, ao governo do Rio Grande do Sul. Na verdade, o presidente estava diante de um possível adversário do petista ¿ o PDT estuda lançar um nome ao governo gaúcho.

Para o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP), a articulação política de Lula motivou a reação dos oponentes. ¿Isso (a agenda política) contamina tudo e impõe às forças políticas que estejam atentas¿, afirma Aníbal. Apesar das críticas da oposição, o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Luiz Carlos Madeira afirma que não cabe contestação jurídica da agenda política do presidente. ¿As articulações são do jogo, e os candidatos não surgem de paraquedas na véspera das eleições¿, afirma.

¿O objetivo do presidente era tornar conhecida a candidata dele, esse era o primeiro passo. Ele partiu do princípio de que conhecê-la é fundamental para o eleitor se engajar. E é verdade¿, afirma Francisco Gaudêncio, professor de comunicação e política da Universidade de São Paulo (USP). O segundo passo, agora, é conquistar o voto do eleitor.

1- Discursos Não é apenas na agenda de encontros que Lula deixa claro o clima de disputa eleitoral. Em discursos durante eventos e viagens estaduais, o presidente elogia a política de seu governo e aponta falhas em gestões anteriores. Foi esse o roteiro do petista em lançamento do marco regulatório do pré-sal, por exemplo. Na ocasião, Lula criticou o tempo em que o ¿deus mercado estava em alta¿ e destacou a importância de um Estado forte. É exatamente esse o discurso que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pretende adotar em 2010.

O presidente partiu do princípio de que conhecê-la (Dilma) é fundamental para o eleitor se engajar. E é verdade¿

Francisco Gaudêncio, professor de comunicação e política da USP

Áudio com o professor Antonio Flávia Testa