Título: Há 13 anos, má sinalização na BR-101 garante sustento de jovem
Autor: Setti, Rennan; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 25/08/2012, Economia, p. 28

Executivos preferem avião e pagam R$ 1.100 para ir de Rio a Campos

Sem mudanças. Geriano, de 24 anos, há 13 orienta motoristas no trevo de Rio das Ostras em troca de moedas

Campos dos Goytacazes, Rio e São Paulo Um dos símbolos da falta de infraestrutura da BR-101 atende pelo nome de Geriano e tem 24 anos. Desde os 9 ele se posta à beira da estrada com um apito na boca, à altura de Casemiro de Abreu, e orienta motoristas que cruzam o trevo de acesso a Rio das Ostras. Ele e o irmão perceberam que, sem sinal ou viaduto, os motoristas não sabem quando é seguro atravessar. Como recompensa, os motoristas jogam moedas no asfalto, que Geriano recolhe, não sem risco, por meio de uma vareta improvisada com um ímã na ponta. Ao fim do dia, eles arrecadam mais de R$ 80, o que garante o seu sustento. A receita não foi prejudicada com a chegada dos pedágios - cobrado em cinco praças ao longo da rodovia, com tarifas que vão de R$ 3,10 a R$ 18,60.

- Só com muita oração antes de vir trabalhar - diz Geriano, que prefere não revelar seu sobrenome.

Seu irmão já foi atropelado por um caminhão, precisou usar cadeira de rodas, mas depois voltou à BR-101.

professor prevê colapso

Segundo o diretor superintendente da Autopista Fluminense, Alberto Gallo, a meta da concessionária é construir ali um viaduto, que depende de licença ambiental.

De maneira geral, porém, o trecho da BR-101 concedido apresenta condições bem melhores que o restante da rodovia, que segue pelo Espírito Santo nas mãos do poder público. Lá, o acostamento é irregular, as crateras são abundantes e a sinalização, precária. Na última terça-feira, caixas tombadas ocupavam trecho do estreito acostamento.

Se os cariocas temem o impacto da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016 na infraestrutura urbana, a entrada em operação do Superporto do Açu é algo equivalente para o Norte Fluminense. Localizado em São João da Barra e previsto para 2013, o projeto de Eike Batista prevê atrair 50 mil funcionários e uma miríade de indústrias:

- Meus estudos mostram um colapso da BR-101 quando o Açu entrar em operação. O porto planeja um corredor logístico, mas isso não dará conta - diz José Luís Vianna, professor de planejamento urbano da UFF em Campos.

Ele lembra que as obras de duplicação, "que são o que realmente interessa", tiveram um atraso de três anos.

Quem pode pagar prefere percorrer de avião o curto trajeto entre Rio, Macaé e Campos. A Trip oferece 16 voos por semana nessa rota. O preço de ida e volta entre Rio e Campos chega a R$ 1.100. Representante de uma indústria farmacêutica, Leonardo Mauriti trocou a rodovia pelo aeroporto.

- Fiquei cansado de ver acidentes e perder tempo.

No trecho paulista da Fernão Dias, que liga São Paulo a Minas Gerais, a situação é melhor, mas há muitas obras. Uma delas, no KM 53, foi abandonada, dificultando o acesso dos moradores e comerciantes. Analice Kavazaki, dona da Casa dos Dormentes, em frente as obras, reclama:

- Em dias de chuva, não conseguimos nem abrir.

A OHL diz que a obra não está abandonada e que os serviços de terraplanagem e drenagem no local estão praticamente concluídos.