Título: Hospitais e laboratórios do Rio entram em estado de alerta
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 24/08/2012, Economia, p. 26

Fabricantes de remédios não garantem oferta a partir de segunda

Bruno Rosa, Débora Diniz e Vivian Oswald

RIO e BRASÍLIA A greve dos servidores federais colocou hospitais e laboratórios do Rio em alerta máximo. Os fornecedores de medicamentos, órteses e próteses, cujos estoques estão baixos, já avisaram que a partir de segunda-feira não vão conseguir atender à demanda de hospitais e clínicas da cidade, revela o Sindicato dos Hospitais e Clinicas do Município do Rio de Janeiro (SindhRio). Entre as unidades públicas, o monitoramento dos estoques tem sido feito de forma diária, revela uma fonte ligada ao setor de saúde.

Nas farmácias, a lista de produtos em falta é extensa, diz a Associação do Comércio Farmacêutico do Estado do Rio de Janeiro (Ascoferj). Há pelo menos duas semanas, os consumidores não conseguem comprar insulinas, morfinas e soros. De acordo com o presidente do SindhRio, Fernando Boigues, matérias-primas, essenciais para a fabricação de medicamentos, e remédios estão nos depósitos de portos e aeroportos esperando a liberação da Anvisa. Boigues lembrou ainda que algumas fábricas já estão cogitando parar a produção de remédios na próxima semana, caso a greve continue:

- Entramos em contato com alguns fornecedores, como a B. Braum, em São Gonçalo, e eles nos alertaram que falta matéria-prima e, assim, sua linha de produção pode parar até semana que vem. Eles produzem materiais cirúrgicos, nutrição enteral (através de sonda) e parenteral (através da veia), próteses e órteses, entre outros. As importadoras estão pagando a estadia dos produtos nos contêineres, e este certamente será um custo repassado aos prestadores de serviços.

Padilha nega falta de produtos

O sindicato também lembra que entre 60% e 80% das decisões médicas, dependem dos diagnósticos. Já faltam alguns reagentes que compõem o kit para diagnosticar o vírus da Influenza H1N1, bem como Listerina, que é utilizada para verificar a existência de doenças em gestantes.

- Estão ainda acabando os estoques de enzimas que fazem parte dos marcadores cardíacos, que complementam o diagnóstico de infarto agudo e de pro-calcitinina, para analisar infecção generalizada em pacientes na UTI. Até material para raios X já está acabando.

Nas farmácias, o consumidor já enfrenta muitos problemas. É o caso do aposentado Jorge Líbero, de 82 anos. Diabético, não consegue comprar sua insulina sintética Novomix, cuja caixa com cinco refis custa R$ 200:

- Estou preocupado. A caixa dura 25 dias. Meu filho também é diabético. Fui em todas as farmácias de Copacabana e nada. O problema é que não consigo substituir por outra insulina similar.

Além da Novomix, que enfrentou problemas de importação, segundo o fabricante, também estão em falta a insulina Levemir, o soro Pedialyte, para tratar disenterias, a morfina Mydeton e remédios que combatem o déficit de atenção, como o Venvanse e Concerta. Ricardo Valdetaro de Moraes, vice-presidente da Ascoferj, explica que esses medicamentos, por serem de uso contínuo, são de extrema importância para a população, e sua distribuição está sendo afetada pela greve.

- Esses medicamentos já estão em falta há pelo menos duas semanas.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou ontem que não há falta de medicamentos. Segundo ele, os casos, pontuais, ocorreram por falhas do fornecedor e de atraso em licitações. Por outro lado, ele reconhece que a situação não é normal e que, por isso mesmo, o ministério está mobilizado para evitar desabastecimento.

- Qualquer caso concreto de falta de medicamentos ou outros produtos prioritários à saúde pública deve ser informado à ouvidoria da Anvisa.

Um dos "casos pontuais" citados pelo ministro é o do Hospital A. C. Camargo, de São Paulo, em que 50 pacientes em tratamento de câncer ficaram sem quimioterapia na quarta-feira pela falta do medicamento capecitabina. De acordo com Padilha, a Anvisa foi informada pelo laboratório Roche, fabricante do medicamento, de que o desabastecimento se deve à diminuição dos estoques mundiais do produto por conta da redução da oferta de um dos seus insumos, sem, portanto, ter qualquer relação com a greve da Anvisa.

A Receita Federal garantiu que medicamentos, assim como itens perecíveis, têm prioridade na liberação.

- Posso afirmar categoricamente que não há medicamentos ou produtos de saúde que estejam retidos ou atrasados no processo de liberação do âmbito da Receita - disse o subsecretário de Aduana, Ernani Checcucci.