Título: Quando os gestos falam mais alto
Autor: Souza, André de
Fonte: O Globo, 29/08/2012, O País, p. 3

Durante sessões do julgamento do mensalão, ministros do STF não conseguem esconder irritação e cansaço, reagem a surpresas, além de se comunicarem por meio de sinais e olhares

corpo em movimento

Nesta nova fase do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal, em que todos os ministros começaram a proferir seus votos, o ministro-relator Joaquim Barbosa se mostra impaciente. Mesmo quando não intervém oralmente, o Barbosa reage com a cabeça, olha ao lado para um colega num semblante de irresignação.

E, antes de contestar algum voto que o desagrada, o relator usa o seguinte expediente: com uma caneta vermelha hidrocor, anota em letras garrafais o roteiro de sua argumentação de contestação. Tudo numa folha grande, amparada no alto por um suporte no seu lado esquerdo.

Essa é uma das muitas cenas do julgamento do mensalão e que passa ao largo das imagens geradas pela TV Justiça, que transmite as sessões. Anteontem, Joaquim recorreu ao procedimento da caneta vermelha para rebater os argumentos do colega Dias Toffoli, que absolveu o petista João Paulo Cunha, candidato a prefeito em Osasco (SP), e que teve seu pedido de condenação por quatro crimes pedido pelo relator. Primeiro, estava impaciente e em pé, escorado na sua cadeira, com a caneta numa mão e a batendo na outra mão. Demonstrava irritação. Em seguida, sentou e redigiu seu roteiro. De longe era possível enxergar apenas a inscrição no alto: "JP Cunha", e vários tópicos embaixo.

Em outra cena, a ministra Cármen Lúcia fez um sinal para a colega Rosa Weber, que senta quase à sua frente, do outro lado da mesa central do plenário. Ao que pareceu, Cármen fez um sinal para Rosa ler a um e-mail que enviou à colega. Rosa, então, levantou a tela de seu notebook, branco e da Apple, leu e emitiu um sorriso curto. E voltou a fechar seu pequeno computador. Essa rápida e rara troca de sinais se deu quando Toffoli encerrava seu voto e concordava com a condenação de Henrique Pizzolato, ex-diretor do Banco do Brasil. Cármen também fica com o notebook fechado o tempo inteiro e faz anotações a mão, ora a lápis ora de caneta.

O revisor Ricardo Lewandowski tem seus hábitos. Menos irritado que em sessões anteriores, o revisor, na última segunda, repetiu um gesto que lhe é peculiar. Sempre posiciona o corpo para trás, na confortável e enorme poltrona, e joga também a cabeça para trás. E fica olhando para o alto, pensativo. Repete várias vezes o gesto, mas sempre quando está contrariado.