Título: BC reduz Selic a 7,5% e indica estabilidade
Autor: Valente, Gabriela; Scrivano, Roberta
Fonte: O Globo, 30/08/2012, Economia, p. 29

Novo corte, só com "máxima parcimônia", afirma. Brasil recua da 3ª para a 5ª posição em juros reais

Gabriela Valente, Roberta Scrivano e Lino Rodrigues

BRASÍLIA e SÃO PAULO Um ano após ter iniciado uma sequência de cortes na taxa básica de juros, o Banco Central (BC) fez ontem mais uma redução na Selic, de 8% para 7,5% ao ano, mas avisou que esse ciclo chegou ao fim e indicou que, se houver uma nova redução, será feita com a "máxima parcimônia". A justificativa é que os estímulos do governo para impulsionar o crescimento têm recuperado o nível de atividade no Brasil. Com essa decisão unânime do Comitê de Política Monetária (Copom), a Selic caiu ao menor patamar de todos os tempos, como previam os economistas.

"Considerando os efeitos cumulativos e defasados das ações de política implementadas até o momento, que em parte se refletem na recuperação em curso da atividade econômica, o Copom entende que, se o cenário prospectivo vier a comportar um ajuste adicional nas condições monetárias, esse movimento deverá ser conduzido com a máxima parcimônia", disse o BC.

A expressão foi entendida pelos analistas do mercado financeiro como uma brecha para que um corte menor, de apenas de 0,25 ponto percentual.

- Eles estão confiantes de que os estímulos fiscais e monetários estão surtindo efeito e 2013 será melhor - disse o economista-chefe da corretora Votorantim, Roberto Padovani.

Se houver outro corte, a Selic chegaria ao piso histórico de 7,25% ao ano, patamar esperado pela maioria dos analistas, segundo pesquisa semanal do BC. Mas há quem tenha cenários mais audaciosos. O economista-chefe da corretora Gradual, André Perfeito, por exemplo, acredita que pode haver cortes até o patamar de 7% ao ano. Segundo Perfeito, a pressão sobre a inflação deve ser aliviada em breve, abrindo espaço para a atuação do BC:

- A queda de arrecadação amarrou as mãos do Palácio do Planalto e jogou toda a responsabilidade de fazer o Brasil crescer no colo do BC.

O mercado projeta o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no ano em 5,19%, acima do centro da meta (4,5%), mas na margem de tolerância de dois pontos percentuais. Mas espera-se crescimento de 1,73% em 2012, longe dos 3% previstos pelo governo.

Força Sindical elogia decisão

Com o corte de ontem, o Brasil recuou da terceira para a quinta posição no ranking dos juros mais altos do mundo,no qual ficou no topo por muitos anos. Projeção da Cruzeiro do Sul Corretora, considerando a inflação prevista para os próximos 12 meses, mostra a taxa de juro real brasileira agora em 1,8%, atrás de China (4,1%), Chile (2,4%), Austrália (2,3%) e Rússia (2,3%).

Segundo analistas, uma taxa real de juro menor deve reduzir a atratividade dos investimentos de renda fixa (cuja base de cálculo é a Selic), sobretudo para os estrangeiros. Além disso, deve aliviar as taxas dos empréstimos bancários, o que não vem ocorrendo na velocidade esperada, afirmou o economista Jason Vieira, responsável pelo levantamento da Cruzeiro do Sul.

Nos últimos 12 meses, período em que a Selic recuou de 12,5% para 7,5%, a taxa média anual de juros cobrada dos consumidores (incluindo varejo e bancos) caiu de 121,21% para 102,97% ao ano, segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) consideraram a decisão acertada e em sintonia com o cenário de desaceleração da economia. Mas o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, ressaltou que isso ainda não basta para retomar o crescimento:

- Já estamos no segundo semestre e os efeitos da demora em reduzir juros rapidamente estão batendo na nossa porta - disse Skaf.

O presidente da Força Sindical, Miguel Torres, disse que a decisão do Copom mostra que o governo está no caminho certo "ao atender os apelos dos trabalhadores".