Título: Anfavea defende lucratividade de montadoras
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 30/08/2012, Economia, p. 27

Entidade cita fabricantes americanas que quebraram para justificar margem

Gabriela Valente, Lucianne Carneiro e Fabiana Ribeiro

BRASÍLIA e RIO O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini, defendeu ontem a lucratividade das montadoras brasileiras, ao ser perguntado sobre a margem maior, na comparação com as estrangeiras, como mostrou reportagem do GLOBO de ontem:

- É difícil de dizer. As montadoras têm de ter lucratividade porque o exemplo americano mostra que, se não tiver, quebra. Então é melhor ter lucratividade e, principalmente, investir. Investir em capacidade de produção, em tecnologia, em novos produtos, em geração de emprego - disse Belini, depois de se reunir com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para pedir a renovação do corte do IPI, horas antes do anúncio da prorrogação.

Já Mantega foi evasivo:

- Não sei a rentabilidade das empresas porque não publicam balanços. Mas espero que, com as medidas que estamos tomando, um dia os brasileiros tenham a oportunidade de comprar carros aqui pelo mesmo preço lá de fora.

Levantamento em cinco países - Brasil, EUA, Argentina, França e Japão - mostrou que o carro brasileiro é sempre o mais caro. Estimativa do diretor-gerente da consultoria IHS Automotive no Brasil, Paulo Cardamone, é que as montadoras têm ganho de 10% do preço de um carro no Brasil, enquanto no mundo é de 5%. Nos EUA, a margem é de 3%.

Para o professor da UFF e do FGV Management e economista do BNDES André Nassif, não há uma concorrência efetiva no Brasil. Segundo ele, as montadoras com maior fatia de mercado operam com maior economia de escala, o que não ocorre com as menores:

- Mas não é interessante para ninguém a disputa de preços. Como a tarifa de importação é alta e não há muita concorrência, as empresas colocam os preços em um nível maior e competem por diferenciação de produto.

O cenário inclui ainda um consumidor que está disposto a pagar - seja por necessidade ou não - um preço alto para ter um carro.

- O preço de carro no Brasil é irreal. Carros típicos de consumidor AA aqui, lá fora são bens de consumo comuns. Aqui se paga caro por carro que não vale tanto assim - comenta Vitor Meizikas, consultor da Molicar.

- O brasileiro se acostumou a pagar caro para ter um carro na garagem - complementa José Caporal, consultor da Megadealer.