Título: Mantega volta a criticar juros cobrados por bancos privados
Autor: Doca, Geralda; Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 31/08/2012, Economia, p. 27

Ministro da Fazenda culpa setor pelo baixo crescimento da economia

BRASÍLIA e são paulo O ministro da Fazenda, Guido Mantega, aproveitou ontem a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) e voltou a criticar os juros cobrados pelos bancos privados. Segundo o ministro, embora a taxa básica (Selic) venha caindo há um ano e tenha alcançado o patamar mais baixo da História, 7,5% ao ano, as taxas praticadas pelas instituições ainda não estimulam o consumo e os investimentos. Ele culpou o setor financeiro pelo baixo crescimento da economia , motivado em parte, na sua opinião, pela escassez de crédito nos últimos meses e pelos juros elevados.

- A taxa de juros praticada pelos bancos ainda não está adequada, de modo que possa estimular o consumo e os investimentos - disse o ministro Mantega, que acrescentou: - Uma das razões pelas quais a economia brasileira cresceu pouco foi a falta de liberação de financiamento pelas instituições financeiras e as taxas de juros elevadas - disse.

Instituições públicas como exemplo

De acordo com dados divulgados ontem pelo banco Central (BC), em julho, houve queda de apenas 0,1 ponto percentual no spread (diferença entre o custo de captação do banco e o que ele cobra nos empréstimos aos clientes) cobrado da pessoa física. Já para as empresas, o spread ficou estável. No entanto, os juros cobrados ficaram menores por causa da queda da Selic.

- Após quatro meses de quedas significativas do spread , o ritmo de queda se acomodou - confirmou o chefe do departamento econômico do BC, Túlio Maciel.

Desde o início do ano, quando o Planalto orquestrou movimento para que bancos públicos forçassem a queda do custo financeiro para clientes, o spread bancário para pessoa física caiu 5,3 pontos percentuais. Nesse período, os juros diminuíram 7,6 ponto percentuais em média.

Durante a apresentação dos indicadores econômicos no Conselho, Mantega reiterou que os bancos públicos saíram na frente e estão liberando mais crédito e baixando juros:

- Espera-se que os bancos privados sigam a trajetória dos bancos públicos, porque só aí é que teremos um estímulo adequado à economia brasileira.

O ministro admitiu que o spread está caindo no país, mas até agora deu apenas "os primeiros passos" em direção a um patamar razoável, mais adequado à solidez da economia.

- Ainda estamos entre os spreads mais altos do mundo - destacou Mantega.

Desde agosto do ano passado, a Selic caiu 40% - de 12,5% em agosto de 2011 para 7,5% ao ano na última quarta-feira. No mesmo período, a redução média dos juros cobrados das pessoas físicas foi de apenas 15%, de 121,21% para 102,97%, segundo levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

Inadimplência sobe ao nível de maio

De acordo com Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor de economia da Anefac, o aumento da inadimplência é um dos fatores que fizeram com que os juros na ponta do consumo recuassem mais lentamente nos últimos 12 meses. Em julho, o índice de atrasos acima de 90 dias para os empréstimos a pessoa física chegou a 7,9%, ante 6,6% no mesmo mês de 2011, segundo o BC, e 7,8% em junho. O índice voltou ao patamar de maio: o maior desde 2009 no auge da crise econômica que mundial. De acordo com o BC, ao contrário dos últimos meses, nos financiamentos de veículos o calote ficou estável em 6%.

- Dentro da formação da taxa de juros, temos cinco componentes: Selic, impostos, despesas administrativas, o risco de inadimplência e, por último, o lucro do banco - explicou Oliveira.

Para Luís Miguel Santacreu, analista de bancos da consultoria Austin Rating, os bancos tendem a ser mais conservadores num cenário de inadimplência alta e também para não abrirem mão de suas margens.