Título: Indústria cai 2,5%, pior resultado desde o 1º trimestre de 2009
Autor: Scrivano, Roberta; Gama, Júnia
Fonte: O Globo, 01/09/2012, Economia, p. 26

Empresários se queixam, e Fiesp diz que governo precisa ter coragem

Roberta Scrivano, Júnia Gama, Cássia Almeida e Fabiana Ribeiro

E o Pibinho não reage...

SÃO PAULO, BRASÍLIA E RIO Os números negativos da indústria, cuja produção encolheu 2,5% no segundo trimestre frente ao primeiro, foi o principal responsável pelo tímido avanço do Produto Interno Bruto (PIB). Foi o pior resultado da indústria desde o primeiro trimestre 2009, quando o país estava em recessão e o setor industrial amargou uma perda de produção de 6,5%.

Este ano, a indústria acumula queda de 1,2%. O empresário Márcio Luiz Sala, dono da indústria de embalagens plásticas Cária, em São Paulo, afirma que, para sua fábrica, "o ano ainda não começou". O primeiro semestre de 2012, segundo Sala, está entre os piores da história da empresa, que foi fundada em 1968:

- Nem a crise de 2008 nos pegou assim.

Além da demanda fraca, Sala diz que os custos da matéria-prima, o volume de impostos e a dificuldade em obter crédito são os principais entraves aos negócios. Com a eficiência produtiva abalada, apesar do câmbio mais favorável, fabricantes estrangeiros de produtos similares conseguem produzir a custos muito menores.

Setor de plásticos recuou 3,7% no 1º semestre

As cotações das principais matérias-primas usadas por sua fábrica, o polipropileno e o polietileno, derivados do petróleo cujo único fornecedor local é a Braskem, subiram 355% de 1999 até agora, afirma Sala:

- Para zerar essa alta, eu deveria subir o preço dos meus produtos em cerca de 130%. E não há como meus clientes aceitarem isso.

Ele conta que tem tido de investir em tecnologia para atender às demandas dos seus clientes, que querem embalagens mais sustentáveis, com menos plástico.

- O governo só dá incentivo à indústria automobilística e à linha branca. Parece que embalagem e outros setores não são importantes - reclama, lembrando que o segmento de embalagens é um termômetro da indústria.

Segundo dados do Sindiplast, sindicato que representa o setor, o segmento é o terceiro que mais gera empregos no país. Este informa ainda que a produção no primeiro semestre recuou 3,7% frente ao mesmo período de 2011.

Apesar das dificuldades, porém, não houve demissões até agora. Sala diz que isso se deve à expectativa acelerar a produção nos próximos meses, para não fechar 2012 com prejuízo.

Fiesp prevê retração de 2,6% no pib industrial

Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, a indústria deve ter um desempenho melhor neste segundo semestre, com crescimento anual entre 1,5% e 1,7% no ano. Ele acredita que as medidas que o governo deve anunciar semana que vem, para reduzir os custos da energia, vão ajudar na recuperação da indústria. Andrade esteve ontem com a presidente Dilma Rousseff, que, na sua opinião, "sabe perfeitamente dos problemas".

Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), ressalta que os dados divulgados ontem pelo IBGE estão de acordo com as projeções da entidade: expansão de apenas 1,4% para o PIB nacional e retração de 2,6% do PIB industrial.

- O governo precisa ter coragem para transformar intenções em ações em prol da competitividade, da produção e do crescimento do Brasil - diz Skaf, que cita como problemas a manutenção do câmbio, custos com energia, burocracia e tributos, além da necessidade de mais investimento em infraestrutura.

A CNI, por sua vez, espera que o PIB industrial consiga crescer entre 1,5% e 1,7% este ano.

Júlio Gomes de Almeida, professor da Unicamp e consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), também estás confiante de que as medidas do governo ajudarão na recuperação da atividade industrial. Mas admite que "não há nenhum número que nos faça crer nessa melhora, são expectativas".

- Na queda de braço entre o governo e a crise, é o país que vem perdendo de 2 a 0. Esse placar foi pior. As medidas do governo e os juros menores frearam perdas que poderiam ser ainda maiores. Mas, para mudar esse cenário, não há outra saída: o país precisa investir - afirmou Gomes de Almeida.