Título: No calor da eleição
Autor: Uribe, Gustavo; Voitch, Guilherme
Fonte: O Globo, 01/09/2012, O País, p. 11

A movimentação já começou na eleição paulistana. Antes de 21 de agosto, as pesquisas anotavam um cenário de estabilidade, perturbado somente pela ascensão do candidato Celso Russomanno (PRB), à custa, basicamente, de candidatos nanicos, que despencaram no agregado de 10%, em março, para 0%. Mas a pesquisa do dia 21 apontou uma mudança de tendência, com Russomanno crescendo provavelmente às expensas do eleitorado de José Serra (PSDB), até então o líder, enquanto os outros candidatos permaneciam estáveis. As duas mais recentes pesquisas, feitas no dia 29, confirmam essa tendência, mostrando Russomanno na liderança com 31% e Serra em declínio, agora com 22%.

Fernando Haddad (PT), que se manteve em torno de 8% desde junho, saltou para 14%. Isso era previsível. Enquanto Russomanno e Serra são conhecidos pela quase totalidade do eleitorado, Haddad anotava 64% de reconhecimento no dia 21. Tem mais: 70% declararam conhecer Serra "muito bem", mas esse número para Haddad era de somente 13%. Ou seja, Haddad tem muito a ganhar ao tornar-se conhecido pelo eleitorado. Sua pequena taxa de rejeição, 15%, tende a aumentar, mas ele tem muitos trunfos: a popularidade do ex-presidente Lula e da presidente Dilma, a liderança do PT na preferência do eleitorado paulistano (24% contra 4% do PMDB e 2% do PSDB) e bastante tempo de TV.

E tempo de TV é fator crucial. A divisão beneficia Serra e Haddad, ambos com quase oito minutos, contra Russomanno, que tem 2 minutos e 11 segundos. Mas a campanha de Serra tem razões para se preocupar, pois seu candidato está trocando votos com aquele que tem tempo muito menor. Outro problema é o aumento da rejeição de Serra, de 38% para 43%, frente a um eleitorado que já o conhecia. Mas ele terá tempo suficiente para tentar estancar essa sangria até o primeiro turno.

Em São Paulo, PT e PSDB executam uma dança parecida com a que vimos na eleição presidencial de 2010. Russomanno é o fato novo. Ele até agora conseguiu surfar acima da disputa PT/PSDB. A dispersão de seus potenciais eleitores entre simpatizantes de todos os partidos mostra que o eleitorado não o localiza claramente no espectro ideológico esquerda-direita. Será que conseguirá manter o atual nível de intenção de votos, com parcos minutos de TV, um partido sem eleitorado cativo e o slogan "Está bom para ambas as partes?"