Título: Parlamentares justificam faltas para não terem salários cortados
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 02/09/2012, O País, p. 4

A maioria alega como motivo "atendimento político-partidário"

BRASÍLIA Dos 41 deputados federais e senadores que disputam a eleição em capital, apenas seis deputados se licenciaram para fazer a campanha. Os demais - cinco senadores e 30 deputados -, que estão a maior parte do tempo desde julho em campanha, continuam recebendo o subsídio parlamentar e fazendo jus a todos os seus benefícios, como a verba de gabinete que custeia despesas do mandato. Mas, se no Senado os cinco candidatos se empenharam para participar das poucas sessões do esforço concentrado neste período de recesso branco, na Câmara muitos deram preferência à campanha e não garantiram presença nas três únicas sessões de votação em agosto.

Na sessão do dia 8 de agosto, 16 marcaram presença e 14 se ausentaram, sendo que seis deles apresentaram justificativa para evitar que a ausência signifique corte no salário. No dia 21, 12 dos 30 faltaram e, no dia 22, a maior debandada: 22. Muitos candidatos já se ausentaram antes mesmo do início oficial da campanha, em julho, mas com o cuidado de garantir o abono das faltas.

O candidato a prefeito de Belém (Pará) pelo PMDB, José Priante, por enquanto, foi o mais ausente nos 62 dias de votação no plenário em 2012: faltou 35 dias, mas em 33 deles conseguiu evitar o corte nos salários. A justificativa, utilizada pela maioria dos deputados para evitar o desconto, é o "atendimento à obrigação político-partidária", uma permissividade do Regimento Interno.

A assessoria de Priante informou que, mesmo quando está em Brasília, o deputado às vezes se esquece de registrar a presença, porque está em eventos fora da Casa, como agendas nos ministérios. Ele ausentou-se em duas das três sessões de agosto, segundo a assessoria, porque tinha agenda de candidato e as votações eram simbólicas.

Também conseguiram abonar a maioria das faltas neste ano a deputada Antonia Lúcia (PSC-AC), candidata à prefeitura de Rio Branco (Acre), e o candidato do PTB em Manaus (AM), Sabino Castelo Branco. Antonia Lúcia abonou as faltas em 31 dias, incluindo os três do esforço concentrado de agosto, e Castelo Branco, 20 dias. Usaram a mesma justificativa de Priante.

No caso do Rio, dez deputados disputam as eleições, dois na capital e o restante no interior. Apenas Sérgio Zveiter, candidato do PSD em Niterói, se licenciou para fazer campanha. Entre os outros nove que tentaram compatibilizar as duas tarefas, só Neilton Mulin (PR), que disputa em São Gonçalo, esteve presente nas três sessões de agosto. No dia 8, seis dos nove candidatos do Rio marcaram presença. No dia 21, quatro e no dia 22, somente três.

Candidato a prefeito do Rio, o deputado Otavio Leite (PSDB) ausentou-se na votação do dia 22. Segundo ele, foi um ato combinado com a liderança do PSDB, pois só seriam votados projetos consensuais. Para o tucano, não há incompatibilidade em fazer campanha e continuar no exercício do mandato.

- Estou procurando compatibilizar e cumprindo meu papel como deputado. Sigo as diretrizes da liderança. Assumi que faltei no dia 22. Não solicitei abono da falta - disse.

O mesmo aconteceu com Rodrigo Maia, candidato do DEM no Rio. Ele estava ausente nas sessões dos dias 8 e 22 e não pediu ao partido que abonasse as faltas, ou seja, será descontado.

- Tive que participar de um debate no Rio. Não havia votação de temas polêmicos, foram simbólicas. Mas, durante a campanha, optei por não pedir que o partido justifique minhas faltas - afirmou Maia.

No Senado, o esforço concentrado somará duas semanas em agosto e uma semana em setembro. Os cinco senadores candidatos marcaram presença em todas as sessões até agora. Ir ao Senado renderia votos, acreditam alguns.

- Continuamos fazendo campanha aqui. Ir ao plenário é importante, tem repercussão em Fortaleza, a população sabe e entende que você está trabalhando - disse o senador Inácio Arruda (PCdoB), candidato na capital cearense.

O senador Humberto Costa (PT-PE), que disputa a prefeitura de Recife, vai a Brasília apenas nos dias de esforço concentrado:

- Mantenho meus afazeres. Não há incompatibilidade.