Título: Vulnerabilidade e prevenção
Autor: Marengo, José Antonio
Fonte: O Globo, 07/09/2012, Opinião, p. 21

Cientistas latino-americanos se reuniram em São Paulo para tratar sobre eventos climáticos extremos e seus impactos na região. O que irá determinar o risco de desastres que acarretam a perda de vidas humanas e prejuízos econômicos será o nível de vulnerabilidade e de exposição das populações a eventos climáticos extremos, como chuvas intensas.

O clima do nosso planeta muda de forma natural em escalas de tempo de milhares ou milhões de anos. As pesquisas indicam alterações na composição da atmosfera resultantes das atividades humanas nos últimos 100-200 anos, o que não é muito em comparação com a variabilidade natural de clima.

É justamente esta atribuição do aquecimento global às causas humanas que tem gerado uma onda de ceticismo climático, que nega a existência do aquecimento global ou, ao menos, nega que os seres humanos tenham um papel representativo nesse processo. O professor Richard Muller, do projeto Berkeley Ciência da Temperatura Terrestre, informou inicialmente que os dados de temperatura da superfície terrestre não eram confiáveis e, meses depois, o mesmo projeto confirmou que o mais provável é que o aquecimento ocorreu maiormente devido a emissões de gases de efeito estufa produzidos pelo homem, que aumentaram ainda mais o aquecimento global natural. O bom cético presta um ótimo serviço ao fazer críticas que podem ser utilizadas para o avanço do conhecimento. É importante diferenciar os céticos com embasamento dos interesseiros, que muitas vezes são pagos por empresas e até por governos para impedir qualquer progresso.

O ceticismo climático no Brasil tem outra dimensão, talvez mais voltada ao negacionismo. Alguns céticos afirmam que, pelo fato de serem céticos, acham difícil publicar em revistas acadêmicas de prestígio.

Outros vão ainda mais longe, falando que o terrorismo sobre o clima é ameaça à soberania nacional e que a ONU usa o debate sobre mudanças climáticas para exercer uma "governança mundial". Os céticos ajudam a criar ainda mais ruído na comunicação entre cientistas e tomadores de decisão sobre assuntos de clima, gerando muitas vezes confusão no governo, o que pode resultar na inação. Em carta à presidente Dilma Roussef antes da Rio+20, 18 cientistas brasileiros afirmaram que "as mudanças climáticas têm sido pautadas por motivações ideológicas, políticas, acadêmicas e econômicas restritas e que tal atitude contraria os princípios basilares da prática científica como também, os interesses maiores das sociedades de todo o mundo, inclusive a brasileira".

A resposta da presidente Dilma não poderia ter sido melhor. No dia 18 de agosto de 2012, lançou o Plano Nacional de Gestão de Riscos e Resposta a Desastres Naturais que prevê investimentos de R$ 18,8 bilhões até 2014. Ela reconheceu que é "obrigação" do governo a adoção de medidas como essas, para reduzir os riscos de mortes e perdas materiais por desastres naturais, que no Brasil são maiormente devidos a chuvas intensas.

As informações científicas são a cada dia mais contundentes, o ceticismo está perdendo espaço, as bases científicas já estão estabelecidas e o próximo passo é avançar rapidamente com políticas públicas de convivência com as mudanças climáticas.