Título: A escolha do presidente
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 27/09/2009, Política, p. 4

O difícil será escolher qual o discurso menos doloroso para uma candidatura do governo: elevar os juros ou deixar a inflação subir, torcendo para que o eleitorado não perceba seus efeitos na primeira hora

Até o momento todos os especialistas concordam que o governo não terá problemas econômicos no ano que vem, certo? Errado. Embora os políticos de todas as matizes estejam testando seu francês para ler no Le Monde que a nossa economia foi uma das primeiras a sair da crise, ainda não há segurança de que o governo não terá obstáculos a vencer nessa área em 2010. E quem faz esse alerta é o economista Raul Velloso.

Velloso já foi secretário adjunto do Ministério do Planejamento nos tempos de Fernando Henrique Cardoso e é hoje um dos estudiosos dos movimentos da economia. Dificilmente erra. Ao avaliar os boletins dos analistas de mercado, ele diz ser bastante provável que, ainda no primeiro semestre de 2010 ¿ portanto no período de lançamento oficial das candidaturas à Presidência da República ¿, o governo seja obrigado a fazer uma ¿escolha de Sofia¿ na seara econômica comandada hoje pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

As premissas que levaram Velloso a essa conclusão são simples. Primeiro, a perspectiva de recuperação da economia mundial no ano que vem, uma hipótese comemorada na sexta-feira entre os países que participaram do encontro do G-20 em Pittsburgh, nos Estados Unidos.

E, diante dessa retomada mundial, tudo deve voltar ao seu leito natural. Esse retorno associado ao crescimento do gasto público corrente no Brasil, diz Raul Velloso, fatalmente, vai gerar inflação. O problema, diz Velloso, é que o governo, para não desagradar ninguém, apostou nos gastos permanentes, como aumentos de salário concedidos ao funcionalismo em plena crise, até mesmo para altos escalões, como o Judiciário. O próprio Banco Central está preocupado com esse perigo de inflação no ano eleitoral, conforme revelou ontem reportagem de Vicente Nunes no Correio.

Enquanto o Banco Central avalia os números, os políticos do governo mais atentos às idas e vindas da economia começam a organizar um discurso e a pensar desde já em como contornar esse obstáculo para não deixar a candidatura da ministra Dilma Rousseff com mais uma sujeira no combustível capaz de engasgar o motor.

Entre o dilema juros e retorno da inflação em plena largada de 2010, ninguém aposta que Lula irá deixar a economia desandar. Em todas as oportunidades, o presidente tem dito que não irá descuidar nem da inflação, nem dos juros. O difícil será escolher qual o discurso menos doloroso para uma candidatura do governo: elevar os juros ou deixar a inflação subir torcendo para que o eleitorado não perceba seus efeitos na primeira hora.

A aposta dos políticos é a de que a inflação baixa é uma conquista tão arraigada na população quanto o Bolsa Família. Portanto, um pequeno aumento dos juros, se não houver outra alternativa, ainda será menos doloroso do que a dona de casa chegar ao supermercado e ver o aumento dos preços. Afinal, em ano de eleição, a culpa de qualquer aumento de preço é sempre do governo e, ou Lula tem um discurso forte para rebater isso, ou a ministra Dilma Rousseff vai passar maus bocados na hora do cara-a-cara com o eleitor.

Minha turma Desconhecido dos deputados e senadores que cobram a liberação as emendas parlamentares, o novo ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, terá a sua posse amanhã anabolizada pela presença de prefeitos. Afinal, como já foi dito, foi para turbinar esse grupo que ele chegou ao cargo faltando um ano para a eleição de 2010. Será a hora de negociar com os prefeitos, sem intermediários, no caso os congressistas.