Título: Mudança no ministério divide classe artística, que pede mais comunicação com o setor
Autor:
Fonte: O Globo, 12/09/2012, O País, p. 4

Peso de Marta é elogiado, mas artistas criticam "prêmio de consolação".

A despeito das diferentes avaliações sobre a mudança no comando do Ministério da Cultura, artistas de todos os setores apontam a pouca comunicabilidade da gestão Ana de Hollanda como sua marca e seu maior problema. É consenso a ideia de que a nova ministra, Marta Suplicy, terá como primeira missão abrir o diálogo entre sociedade civil e poder público.

- A natureza da cultura é olhar, dialogar e focar suas questões no outro, mas tivemos uma gestão que colocava o outro, a sociedade, como uma ameaça - diz o articulador cultural Marcus Faustini. - Tivemos uma gestão fechada, reativa, que comprometeu o espírito dialógico que deve ser a marca dessa pasta.

Opinião semelhante tem o presidente da Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro, Eduardo Barata:

- Anteriormente, havia uma interlocução da classe com o MinC e do MinC com o Parlamento. Isso foi bloqueado. Não me senti em nenhum momento representado por ela. Boa parte da classe se sentiu desamparada.

O cineasta Fernando Meirelles diz ser "inegável" o preparo de Marta para o cargo, como seu livre trânsito "pelos corredores do poder", afirma. Já o produtor de cinema Luiz Carlos Barreto ressalta a maior representatividade política e a vocação para o diálogo de Marta:

- A Marta tem muito mais peso político e reforça a posição do ministério. Não só por ser uma senadora do PT, com influência no partido, como pela experiência de ter administrado a maior cidade do Brasil. Isso nos dá a perspectiva de uma gestão forte.

O produtor não deixa de comentar a condição de moeda de troca, já que Marta foi preterida na eleição em São Paulo.

O artista plástico Ernesto Neto lamenta a mudança e a definição da nova ministra como um "prêmio de consolação":

- Preferia alguém mais de cultura que de política. Acho uma tristeza que a cultura não seja tratada como instrumento de educação, e, sim, como uma ficha de negociação. Demos um passo para trás.

O "prêmio de consolação" é, porém, aceito por José Celso Martinez, do Teatro Oficina:

- Marta traz uma projeção maior para a pasta. Tem potencial, poder, agilidade e pode compreender a cultura como uma indústria criativa para a vida.

Já o compositor Paulo César Pinheiro reprovou a troca:

- Acho uma lástima a saída dela (Ana), que estava fazendo ótimo trabalho, principalmente em prol dos compositores.