Título: Ascensão meteórica
Autor: Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 27/09/2009, Política, p. 6

Competência, sorte e até alguns constrangimentos marcam o caminho de jovens autoridades que chegaram rapidamente ao poder no funcionalismo

Já perguntaram a Daniel Vargas até mesmo se ele tinha carteira de motorista

A indicação de Antonio Dias Toffoli para o Supremo Tribunal Federal (STF) causou polêmica entre parlamentares do Congresso, responsáveis pela aprovação do nome para a corte. Além do histórico de advogado do Partido dos Trabalhadores, a pouca idade do advogado-geral da União também foi alvo de críticas. Toffoli tem 41 anos ¿ três a mais que Alexandre Padilha, que assumirá a Secretaria de Relações Institucionais no lugar de José Múcio Monteiro, agora ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).

A pouca idade, na verdade, não é tão incomum em altos postos do Executivo. Um exemplo é o titular da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Daniel Barcelos Vargas, 30 anos, no cargo há cerca de três meses, após a saída de Roberto Mangabeira Unger. O perfil do novo ministro provocou certa mudança na rotina da pasta.

Quando Daniel participa de algum evento com colegas da Esplanada, toma o cuidado para que o cerimonial da secretaria se antecipe à sua chegada, para evitar constrangimentos. Desde que assumiu interinamente a pasta no lugar de Mangabeira Unger, o mineiro de Patos de Minas perdeu as contas de quantas vezes teve o acesso impedido, ainda que por poucos segundos, à área restrita às autoridades. Em viagens ao interior do Brasil, também já perguntaram, em tom de brincadeira, se o jovem ministro tinha carteira de motorista.

Após concluir a faculdade de direito, Daniel aprofundou os estudos em mestrado na universidade e, depois, em Harvard, onde ingressou no doutorado. E foi na renomada instituição dos Estados Unidos que conheceu Mangabeira Unger, cujo convite o fez voltar ao Brasil e dar início à carreira que, em dois anos, o levaria ao posto de ministro. ¿Para mim, foi uma sucessão de acasos. Um pouco de sorte, um pouco de mérito¿, avalia. Quando Unger precisou voltar aos Estados Unidos para não perder a licença de professor, o então subchefe executivo imaginou que ficaria no máximo dois dias com o título de ministro. Mas a interinidade já dura três meses.

Comissão de Anistia Aos 34 anos, o também mineiro Paulo Abraão mexe diariamente com uma parte da história do país. O advogado preside a Comissão de Anistia, que analisa os processos de pessoas perseguidas durante o regime militar. Formado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul, exerceu várias funções na prefeitura de Porto Alegre, onde leciona direito. Além disso, integra uma missão brasileira que auxilia o governo na criação de uma universidade em Cabo Verde, na África, e faz parte da comissão de especialistas em assuntos jurídicos do Ministério da Educação.

Levado para a Comissão de Anistia pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, Abraão substituiu Marcelo Lavenére, um dos maiores juristas do país e ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). ¿Isso (a substituição) elevou muito as minhas responsabilidades, mas tenho experiência para tocar o trabalho¿, diz.

1- Status de ministério O Senado aprovou a criação da Secretaria de Assuntos Estratégicos, com status de ministério, em julho do ano passado. A proposta do governo de criar uma pasta para se pensarem políticas públicas de longo prazo para o Brasil sofreu uma derrota em 2007, quando o Congresso derrubou a medida provisória que criava a Secretaria de Planejamento de Longo Prazo. Com novo nome, a SAE surgiu por meio de decreto.