Título: Dono do Nacional é sócio de Demóstenes
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 12/09/2012, Rio, p. 18

Investigado por CPI, Marcelo Limírio também já teve empresa com o bicheiro Carlinhos Cachoeira

O empresário goiano Marcelo Henrique Limírio Gonçalves, que em dezembro de 2009, juntamente com outros sócios, arrematou o Hotel Nacional, em São Conrado, e prometia fazer uma reforma que o habilitasse a receber turistas já na Copa de 2014, é milionário e possui ligações políticas e comerciais em seu estado com personagens que ganharam destaque este ano: o bicheiro Carlinhos Cachoeira, o ex-senador Demóstenes Torres e o governador de Goiás Marconi Perillo. Limírio tem - ou teve - sociedade com os três em vários ramos de negócios.

Com o contraventor que dá nome à CPI que investiga a ramificação do crime organizado de Goiás com políticos, policiais e empresários, Limírio manteve uma sociedade na empresa ICF, que fornece testes de laboratórios. A Vitapan, que já foi de Cachoeira e atualmente está registrada no nome da ex-mulher dele, Andréa Aprígio, era uma das empresas que comercializavam com a ICF. A CPI pediu a quebra dos sigilos telefônico, bancário e fiscal de Limírio.

Ajuda na campanha

O empresário é sócio de Demóstenes na Nova Faculdade, em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte. O empreendimento é de 2008, e o ex-senador entrou na sociedade com R$ 200 mil, divididos em parcelas de R$ 8 mil. A assessora de Demóstenes, Renata Carla de Castro Costa, também integra a sociedade. Na campanha de 2010 ao Senado, Demóstenes recebeu da pessoa física de Limírio R$ 200 mil. Mas a Hypermarcas, da qual o empresário é um dos sócios, deu mais R$ 500 mil para o então candidato, e outros R$ 500 mil para Marconi Perillo (PSDB), que concorria - e foi o vencedor - ao governo de Goiás.

Limírio acabou se tornando sócio de Marconi também. Em janeiro de 2008, os dois associaram-se a outros empresários locais e adquiriram uma área em Pirenópolis, a 150 km de Brasília. Marconi e a mulher dele, Valéria, são os sócios majoritários do empreendimento. A área foi adquirida, segundo registro em cartório, por R$ 800 mil, divididos em dois pagamentos.

Com seu jeito empreendedor, Limírio também adquiriu outra área. Em 2010, como integrante da MCLG Administração, comprou a fazenda Piratininga, em São Miguel do Araguaia, Goiás. O imóvel pertencia ao ex-dono da Vasp Wagner Canhedo e foi adquirido por cerca de R$ 350 milhões. Para se ter uma ideia do valor do imóvel, basta dizer que ele equivale a duas vezes o tamanho da cidade do Rio. Canhedo contesta na Justiça a aquisição.

Apesar de ter comprado o Hotel Nacional há quase três anos, Limírio não deverá reabrir a unidade até a Copa do Mundo de 2014, como esperava a prefeitura do Rio. Como O GLOBO mostrou esta semana, as obras do hotel estão paradas, e o próprio Limírio admite que não há mais tempo para iniciar e concluir os trabalhos até a Copa. No próximo mês, vence a licença do projeto concedida pela Secretaria municipal de Urbanismo. Pelos planos já autorizados pela prefeitura, será construído um segundo prédio de dez andares sobre o centro de convenções, com área de 30 mil metros quadrados.

Um dos motivos do atraso da obra seria a demora nas negociações com o grupo Intercontinental, que seria o novo administrador do hotel. Segundo a assessoria de imprensa do empresário, as negociações não avançaram e, por conta disso, ele assumirá a reforma.

Limírio, juntamente com outros sócios, adquiriu o hotel por R$ 85 milhões. Na época, segundo a assessoria do empresário, foram pagos R$ 17 milhões. O restante foi dividido em 60 parcelas. A negociação é investigada pela Superintendência de Seguros Privados (Susep). O órgão apura indícios de favorecimento ao grupo liderado por Limírio e de possíveis irregularidades na negociações dos valores. Inicialmente, o hotel estava avaliado em R$ 118 milhões, mas o preço caiu para R$ 85 milhões. A Polícia Federal também investiga possíveis irregularidades na transação.