Título: Namoro com PMDB deve ficar mais firme
Autor: Mello, Alessandra
Fonte: Correio Braziliense, 27/09/2009, Política, p. 8

José Eduardo Dutra diz que PT quer acelerar formalização de aliança que pode lançar Michel Temer como vice de Dilma Rousseff

Reginaldo Lopes (à esquerda), Geraldo Magela, Fernando Pimentel e José Eduardo Dutra, em Minas: PT deve definir aliança com PMDB em outubro

O ex-presidente da BR Distribuidora José Eduardo Dutra (PE), que disputa o comando nacional do PT com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou ontem que o partido pretende acelerar o processo de definição da aliança com o PMDB para facilitar a aprovação da composição entre as duas legendas na convenção dos peemedebistas, marcada para o primeiro semestre do ano que vem. Ele disse, também, que o PT pretende intensificar as conversas com o PSB, partido do também pré-candidato ao Palácio do Planalto, deputado federal Ciro Gomes (CE), para tentar atrair a legenda e evitar que sejam lançadas duas candidaturas da base de apoio do governo à Presidência.

O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), cobrou do PT uma antecipação do lançamento da pré-candidatura da ministra Dilma e uma definição sobre a aliança com seu partido até 15 de outubro. A intenção é garantir que não seja aprovada na convenção da legenda uma proposta de neutralidade na disputa, como desejam alguns peemedebistas defensores de uma composição com o governador José Serra (SP), um dos candidatos do PSDB à Presidência da República. ¿Vamos tentar afunilar esse processo, porque está prevista uma convenção do PMDB e aqueles que vão apoiar o Serra vão trabalhar pela aprovação da neutralidade. Então, se for importante lançar essa pré-candidatura, vamos fazer¿, disse Dutra, ontem em Belo Horizonte, onde recebeu o apoio da chapa encabeçada pelo deputado federal Reginaldo Lopes à reeleição do PT em Minas.

Dutra negou que o nome de Temer seja anunciado no mês que vem como vice da ministra Dilma Rousseff (PT), pois essa definição tem de ser feita depois da formalização da aliança, com o aval do PMDB e da ministra. Mas, de acordo com o petista, Temer seria um bom nome para compor com o PT e, se o PMDB vier a fazer parte da chapa presidencial petista, é natural que a legenda indique o candidato a vice. Dutra disse que o partido não pretende ¿sacrificar¿ as candidaturas no estado a favor do PMDB para garantir alianças, mas destacou que a lógica regional não pode se sobrepor ao interesse pela disputa nacional, pois a prioridade do partido é eleger Dilma à Presidência da República.

Divergências Em alguns estados, como Rio Grande do Sul e Bahia, Dutra afirmou que uma aliança entre as duas legendas é difícil, em função de divergências históricas, mas na maioria dos estados, a intenção é repetir o palanque nacional na ¿medida do possível¿. Dutra disse, ainda, que o partido não está preocupado com as recentes pesquisas eleitorais, que apontam uma queda na intenção de votos à pré-candidata do PT. Segundo ele, quem precisa se preocupar é o governador de São Paulo, José Serra, que já foi candidato à Presidência, governa o maior estado do Brasil, é conhecido da população, mas não ultrapassa o teto dos 35% nas intenções de voto.

Alianças em aberto

TIAGO PARIZ José Varella/CB/D.A Press - 11/3/08 Casagrande: candidatura própria deve ser definida depois de janeiro

O cenário eleitoral da aliança do PSB com o PT nos estados reflete o momento turbulento por que passam os dois partidos no plano nacional, com a possibilidade de o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) se lançar à Presidência da República, no ano que vem. Dos 27 estados, os dois partidos estão separados em 14, há previsão de aliança em dez e em outros três, há dúvidas.

Ciro Gomes tenta se viabilizar candidato ao Palácio do Planalto na contramão dos interesses do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que gostaria de uma eleição plebiscitária entre sua candidata, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o governador de São Paulo, José Serra (PSDB). Para tentar desestimular os socialistas, o PT tem lançado ameaças de romper a aliança nos estados.

Pelo quadro atual, os dois partidos estariam juntos nos três estados governados pelo PSB (Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará), em estados administrados pelo PT (Bahia, Sergipe, Pará, Piauí e Acre), além de Roraima e Tocantins. Os partidos são adversários nos três estados do Sul , nos três do Centro-Oeste, no Distrito Federal e em outros seis (veja quadro). Ainda estão em discussão Minas Gerais, Maranhão e São Paulo.

Palanques O deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-presidente da legenda, diz que a candidatura de Ciro Gomes passa pela estratégia do partido para 2010. ¿Uma candidatura à Presidência é importante na nossa estratégia de dobrar o número de governos estaduais e aumentar a bancada. Preciso aumentar o número de eleitores. Partido é igual a time de futebol: quem não entra em campo perde a torcida¿, afirma. Os socialistas também tentam desvincular a candidatura do deputado pelo Ceará das alianças regionais nos estados. ¿Do lado do PSB, não há nenhuma dificuldade de fechar o apoio com o PT¿, declara o senador Renato Casagrande (ES), secretário-geral da legenda.

Mas o PT vê relação. Uma saída que agradaria à cúpula petista seria deslocar Ciro Gomes para a disputa do governo paulista, ideia levantada pelo próprio presidente Lula. Ele deseja criar um palanque forte para Dilma em São Paulo em contraposição ao tucano José Serra.

Para forçar o PSB nessa empreitada, o ex-ministro José Dirceu disse que o PT poderia romper a aliança nos estados e enfraquecer os aliados. Os dirigentes socialistas não esconderam o incômodo. ¿É uma declaração infeliz, impensada e desrespeitosa com o partido que é aliado do presidente Lula desde 1989 e a quem sempre foi leal. É muita pretensão dele achar que o PSB não vive sem o PT¿, rebate Casagrande.

O senador diz que baseia a estratégia do partido nas conversas com o presidente da República. ¿Nós tratamos direto com o presidente. Dissemos, e ele concordou, que essa questão (de Ciro Gomes candidato a presidente) só será decidida em janeiro ou fevereiro¿, afirma.

A relação PT-PSB

Veja abaixo o quadro dos 27 estados

Aliados Pernambuco Rio Grande do Norte Ceará Bahia Sergipe Pará Piauí Acre Roraima Tocantins

Adversários Rio Grande do Sul Santa Catarina Paraná Goiás Mato Grosso Mato Grosso do Sul Paraíba Alagoas Espírito Santo Distrito Federal Rio de Janeiro Amazonas Rondônia Amapá

Dúvida São Paulo Minas Gerais Maranhão