Título: Presidente da Eletrobras: A receita cai, mas o caixa sobe
Autor: Fariello, Danilo
Fonte: O Globo, 13/09/2012, Economia, p. 30

Empresa terá que acelerar redução de custos para fazer frente ao novo modelo tarifário: "transformar limão amargo em caipirinha saborosa"

A Eletrobras é a empresa que mais vai perder receita com a redução das tarifas do setor elétrico, mas também será a mais beneficiada com aportes federais para novos investimentos. A empresa trava nos bastidores uma luta pelas indenizações na renovação das concessões e reivindica R$ 25 bilhões. Mas, pelas contas do governo, o valor total dos aportes está em torno de R$ 15 bilhões. O presidente do grupo estatal, José da Costa Carvalho Neto, disse que para fazer frente ao novo cenário de tarifas será preciso acelerar a velocidade de redução de custos. "É uma oportunidade de transformar um aparente limão amargo em uma caipirinha saborosa."

O que a Eletrobras aponta aos acionistas em relação ao impacto das medidas?

Ainda é difícil avaliar, porque não foi dito ainda quanto vamos receber pelo ativo não depreciado das concessões vencendo, pela operação das concessões renovadas, e pelos recebíveis de Itaipu que vamos transferir ao Tesouro Nacional. O certo é que vamos ter um caixa baseado na Reserva Geral de Reversão (RGR) relativo a investimentos não depreciados dessas concessões, além dos recebíveis. Esses bilhões serão importantes para mantermos nosso crescimento no portfólio de empreendimentos e selecionar projetos.

Como a empresa vai se adaptar à essa nova realidade de receitas menores?

Estamos em um processo de melhoria, com redução de custos e maior eficiência. Tivemos lucro de R$ 2,2 bilhões em 2010, passamos para R$ 3,7 bilhões em 2011, e para R$ 2,6 bilhões só no primeiro semestre de 2012. Mas estamos convencidos de que precisamos acelerar a nossa velocidade de redução de custos. Nas distribuidoras, neste primeiro semestre, a margem melhorou em 52%, apesar de ainda ser negativa. O mercado distribuidor cresceu 13% porque as perdas diminuíram. Além disso, até 2016, entrarão em operação mais 12 mil megawatts de energia novos, que terão impacto em nossa receita. E queremos fazer essa nova geração com custo menor do que é praticado hoje. Mas eu, de fato, seria mentiroso se falasse para você que não teremos perda de receita. A receita cai, mas o caixa sobe.

Isso é uma nova realidade para o acionista acostumado a uma empresa mais geradora de caixa do que investidora?

Vínhamos nos preparando para isso há bastante tempo. Imaginávamos que isso ia ocorrer de 2015 a 2017, mas vimos que foi antecipado e com um caixa maior. Aproveitaremos esse caixa que vamos ter para dar continuidade aos investimentos que já fazemos, além de entrar em novos. Quando soubermos o tamanho desse nosso sapato, com números claros, vamos calçá-lo e nos adaptar a ele. É uma oportunidade de transformar um aparente limão amargo em uma caipirinha saborosa, porque teremos mais condições de acelerar as mudanças que estavam em curso.

Qual o papel da Eletrobras na nova cena?

O governo ainda vê a Eletrobras como fundamental para projetos estruturantes nacionais e para interligação da América do Sul. Hoje, a Eletrobras é a nona maior empresa do mundo em ativos, no setor de energia.