Título: Beijos da 'mequetrefe' são comparados ao de Judas
Autor: Herdy, Thiago; Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 14/09/2012, O País, p. 3

A Bíblia narra que Judas traiu Jesus com um beijo. A prática foi adotada pela máfia italiana: o chefe beija a futura vítima para que o executor saiba quem deve morrer. As duas referências foram usadas ontem por ministros do Supremo em votos sobre a ex-secretária da SMP&B, Geiza Dias, que acabou inocentada. Tudo porque Geiza costumava despedir-se com um beijo nos e-mails que repassava às agências do Banco Rural com os nomes dos beneficiários de vultosas quantias.

O primeiro a dar importância aos beijos de Geiza foi Luiz Fux que votou pela condenação da ré, chamada de "mequetrefe" por seu advogado. Fux comparou o jeito carinhoso da secretária com o relato nervoso do responsável pelos pagamentos na agência do Rural. Em depoimento, o funcionário disse que "quase infartava" de tanto nervosismo:

- Ele (o funcionário) estava com pressão alta, queria ir embora, ele estava sofrendo por ter participado daquilo. (...) Ela, no final, se despede mandando beijo. O outro diz que vai ter um infarto. Então, quem tem infarto não manda beijo. E quem manda beijo não tem infarto.

Já Dias Toffoli, que a absolveu, considerou que Geiza não tinha conhecimento do esquema. Para concluir seu raciocínio, citou a Bíblia:

- Eu conheço uma pessoa que foi condenada em razão de um beijo: Jesus Cristo.

Marco Aurélio Mello comparou o esquema com a máfia italiana, que também transportava o dinheiro em pacotes para driblar as autoridades.

Coube a Fux fazer o elo entre as duas referências, chamando Toffoli de ingênuo:

- Vossa Excelência citou muito bem as estratégias da máfia. Só mesmo o coração bom do ministro Toffoli pode imaginar que ela foi condenada por um beijo. Mas, se foi por um beijo, ainda como na máfia, foi o beijo da morte. Era o beijo da morte que ela dava ao final dos e-mails.

No processo do mensalão, mesmo mandando beijos, Geiza foi absolvida.