Título: Marcelo Neri assume o Ipea e promete fazer mais e melhor
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 13/09/2012, Economia, p. 35

Economista ressalta o avanço dos indicadores sociais do Brasil

Novo presidente do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), o economista Marcelo Neri afirmou ontem no discurso de posse que união é a grande palavra, ao mencionar o seu principal desafio à frente do Instituto. Nos últimos anos, durante a gestão de Marcio Pochmann, hoje candidato à prefeitura de Campinas, o Ipea foi acusado de ter adotado um viés ideológico. A mudança no comando da instituição, que vinha sendo preparada pelo ministro Moreira Franco desde que assumiu a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), em janeiro do ano passado, pareceu agradar à maioria dos funcionários, que lotaram o auditório onde ocorreu a cerimônia de posse.

- O Ipea precisa fazer mais e melhor. É uma usina de ideias e uma plataforma de políticas públicas. O lema não é o que o Ipea pode fazer por cada um dos seus funcionários, mas o que cada um dos seus funcionários pode fazer pelo Brasil - disse Neri.

Ala radical não estaria satisfeita

Já o ministro Moreira Franco, ao empossar Neri, defendeu o respeito à pluralidade e à liberdade de produção da casa como base para as discussões sobre as políticas públicas.

- Sem o respeito à pluralidade e à liberdade de produção, não teremos condições de fazer o Brasil que sonhamos. As transformações sociais do país foram muito profundas. Hoje, não é exagero dizer que temos desafios decorrentes da nova realidade social do país. Eles só poderão ser enfrentados se tivermos a humildade de respeitar a opinião de quem tem qualificação profissional, determinação no trabalho, quem tiver coragem de pesquisar - afirmou o ministro.

Nos bastidores da posse, a informação que circulou é que a corrente ligada à ala petista mais radical da instituição não teria ficado satisfeita com a mudança. É exatamente em cima dessas diferenças que pretende trabalhar o novo presidente, o que ficou evidenciado no discurso pregando a união.

Neri afirmou que "o Brasil está de cabeça para baixo, invertendo suas assimetrias históricas", em referência aos avanços dos indicadores sociais do país nos últimos anos. Segundo ele, a evolução dos últimos anos foi enorme, mas o grande desafio ainda é a qualidade da educação.

Ao GLOBO, em entrevista semana passada, o economista dissera que o país não pode se acomodar.

- Existem dois riscos neste momento. O risco da complacência, achar que já chegou lá, cantar vitória antes do tempo. Ou o risco oposto, de pensar quando vamos virar outro país. Mas isso vai demorar. não dá para querer ser, no Brasil, a Bélgica só com lado belga da Belíndia. Tem o lado indiano, que é a maior parte. Isso é o que o Brasil fez nos últimos anos. A revolução está na base - afirmou o presidente do Ipea.

Segundo Neri, empregadas domésticas, operários da construção civil, da agricultura, enfim, aqueles com menos qualificação, foram as pessoas cujas rendas subiram mais:

- O Brasil é um país do século XIX, que chegou ao século XX e tem que continuar esse progresso para finalmente chegar ao século XXI. Nos últimos anos, a gente levou pobres aos mercados, com esse aumento da classe média, do poder de consumo, que ajudou, durante a crise, a fazer as rodas da economia girarem. Falta agora dar mercados e Estado aos pobres, à base da pirâmide, com Estado mais eficiente, serviço público de qualidade.