Título: Economia brasileira amadureceu desde a crise de 1982
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Fonte: O Globo, 05/09/2012, Opinião, p. 18

Os anos 70 foram de profunda transformação não só no Brasil mas na economia mundial. Nos primeiros anos da década houve um crescimento fortíssimo, e esse período chegou a ser conhecido como milagre brasileiro. A expansão econômica contrastava com o ambiente político fechado. Somente a partir de 1974 teria início uma "lenta e segura" abertura, na definição do então presidente, general Ernesto Geisel - que se completaria apenas em 1985, com a eleição de Tancredo Neves (por via indireta) para a Presidência da República.

O crescimento da economia na década de 70 foi marcado também por um progressivo endividamento externo. Dependente do petróleo importado, o Brasil passou a registrar expressivos déficits em sua balança comercial motivados por dois choques nas cotações internacionais do óleo cru (1973/74 e 1979).

No início dos anos 80, o endividamento externo deu mais um salto, com o choque de juros decorrente da política monetária restritiva adotada pelos Estados Unidos para segurar a inflação que fora desencadeada pela alta dos preços dos combustíveis. Polônia e México foram os primeiros países a não conseguir rolar as dívidas. Em seguida, outras nações endividadas, como o Brasil, foram arrastadas pela crise.

A renegociação da dívida externa, ao fim de 1982, exigiu um rigoroso ajuste da economia brasileira nos anos posteriores. A partir de documentos internos do governo, agora revelados, e de depoimentos de autoridades da época, uma série de reportagens do GLOBO reconstituiu aquele momento delicado.

Os reflexos da crise da dívida perduraram por mais de dez anos. Somente a partir de 1992, quando uma renegociação permitiu que o Brasil retomasse os pagamentos e regularizasse sua situação com os credores, foram criadas as condições para o país debelar um dos seus mais graves problemas econômicos, a inflação crônica e aguda. Outras situações críticas tiveram que ser enfrentadas em 1994, 1998, 1999 e 2003, mas em um contexto que reformas estruturais já haviam sido implementadas ou estavam em curso. A economia pôde enfrentá-las em melhor situação que em 1982.

Hoje, o conceito da economia brasileira é de "grau de investimento" na classificação das agências de avaliação de risco. A vulnerabilidade externa diminuiu consideravelmente, porque as exportações se multiplicaram e já não há dependência energética do passado. A inflação tem sido mantida sob controle por um regime de metas, e o câmbio flexível permite que a economia se ajuste rapidamente no caso de turbulências no mercado internacional. Além disso, reservas da ordem de US$ 380 bilhões afugentam o fantasma de nova crise da dívida. O Brasil virou credor do próprio FMI.

Os desafios atuais são outros. O maior deles é impulsionar investimentos, públicos e privados, capazes de sustentar a retomada do crescimento. Para isso, há necessidade de novas reformas.