Título: Governo recua no Galeão
Autor: Doca, Geralda; Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 05/09/2012, Economia, p. 21

Sem interesse de estrangeiros por parceria, aeroporto pode ir à concessão tradicional

Nova Rota

BRASÍLIA O governo tende a recuar da ideia de adotar um modelo alternativo de parceria com o setor privado nos aeroportos do Galeão, no Rio, e de Confins, em Belo Horizonte, pelo qual a Infraero permaneceria como controladora do negócio. Segundo interlocutores, a presidente Dilma Rousseff está sendo convencida por assessores a adotar o modelo tradicional de concessão, diante da constatação de que, dificilmente, haverá interessados dispostos a investir nos dois aeroportos tendo a Infraero como sócia majoritária.

- Há muitos interessados no setor aeroportuário brasileiro, que cresce e oferece espaço para ser explorado, mas ninguém quer carregar a Infraero - disse uma fonte.

O resultado pouco promissor da missão brasileira ao exterior para sondar interessados na proposta da parceria com a Infraero reforçou a posição do grupo que defende a adoção do modelo tradicional de concessão, adotado em Guarulhos (São Paulo), Viracopos (Campinas) e Brasília.

Segundo uma fonte com acesso aos bastidores dessa discussão, a presidente Dilma ficou frustrada com o resultado do leilão desses aeroportos - que serão administrados por empresas com pouca experiência no setor - e quis buscar um modelo alternativo, que garantisse a entrega de Galeão e Confins a grandes operadores aeroportuários. Assim, foi construída a proposta de parceria entre a Infraero e um sócio estrangeiro com experiência na gestão de mais de 30 milhões de passageiros, mas mantendo a estatal com o controle acionário do negócio.

Ocorre que, até o momento, não apareceram interessados em levar adiante a parceira nesses termos, embora o governo não tenha admitido que a missão à Europa para buscar parceiros, na semana passada, fracassou. Ontem, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, chefe da missão, ao chegar à reunião da Câmara de Comércio Exterior (Camex), disse que a viagem foi muito "boa e produtiva" e que há investidores interessados em investir no Brasil, mas não explicou em que condições.

- Há muito interesse em investimento no Brasil - afirmou a ministra.

OPERADORA DE Cingapura entra no radar

As autoridades brasileiras conversaram com quatro empresas europeias: a Fraport, que administra Frankfurt; a Aéroports de Paris (ADP, que opera o Aeroporto Charles de Gaulle); a Schipol (em Amsterdã); e a BAA (Aeroporto de Heathrow, em Londres).

No fim do dia, a Secretaria de Aviação Civil (SAC) divulgou nota sobre a viagem à Europa, mas também não indicou interesse de qualquer investidor no novo modelo de parceria. "Os encontros contribuíram para troca de informações, o que pode contribuir com a concepção de propostas para o setor aeroportuário no Brasil", diz o texto da SAC. E acrescentou: "A Secretaria de Aviação Civil informa que não há decisão sobre novas concessões de aeroportos no Brasil." A SAC informou ainda que outras operadoras serão sondadas, entre elas, a Changi, empresa que administra o aeroporto de Cingapura.

Fontes envolvidas diretamente nas discussões destacam que a alternativa de parceria com a Infraero somente teria chance de vingar diante de uma demonstração mais enfática dos operadores estrangeiros, o que não se confirmou até agora. Consultores do mercado que trabalharam no processo de formação dos consórcios com empresas estrangeiras, na disputa dos três já leiloados, afirmam que não há disposição do investidor em injetar capital privado e ficar sob as rédeas da Infraero.