Título: Eu contrariei interesses, as pessoas reagem de forma rude
Autor: Gois, Chico De, Pereira, Paulo Celso
Fonte: O Globo, 14/09/2012, O País, p. 16

Ana de Hollanda relembra ataques sofridos e destaca que orçamento aumentou.

A ex-ministra da Cultura Ana de Hollanda disse ontem que saiu sem mágoas do ministério, embora tenha reclamado dos ataques de diversos setores que sofreu desde os primeiros meses à frente do cargo. Elogiada pela presidente Dilma Rousseff, Ana ficou emocionada e chegou a chorar.

Desejando boa sorte para a senadora petista, Ana se colocou à disposição para auxiliá-la no que for preciso, defendeu sua equipe e disse que Marta poderá contar com qualquer dos membros. Despediu-se dizendo que quer voltar para casa e retomar sua vida pessoal, sem a responsabilidade que teve neste tempo em que foi ministra.

Em seu discurso, a própria Ana fez referência velada à carta que mandou ao Ministério do Planejamento, no mês passado, reclamando de verbas:

- Vejo aqui minha querida Miriam Belchior (ministra do Planejamento), que deu grande apoio ao Ministério da Cultura. Este ano, por exemplo, a presidente, a ministra Miriam, a Fazenda se sensibilizaram pela demanda da área da Cultura, que é muito grande. O aumento do nosso orçamento foi considerável. Chegamos a um patamar nunca antes considerado.

Em seu discurso, que durou 21 minutos - quase o dobro do da presidente Dilma -, ela fez questão de enumerar os projetos que tocou, além de observar que a Cultura deve ser levada a todos. A ministra demissionária recorreu a Aldir Blanc, na música "Querelas do Brasil", para dizer que "o Brasil não conhece o Brasil".

Ela narrou viagens que fez pelo interior do país e a valorização da cultura regional. Foi aplaudida apenas no final do discurso. A irmã Miúcha, sentada nas primeiras cadeiras, representou a família.

Sobre os ataques que sofreu, atribuiu-os a reações contra o cargo:

- Hoje estou deixando minha emoção aqui vazar, mas, a todo momento, eu tive meu lado racional para entender por que, quem era que estava atacando, o que significava. Por que pessoas que não me conhecem falam coisas tão baixas, né?! Aí eu vi que não é comigo, é a responsabilidade do cargo. Esse cargo tem isso - declarou, depois, em entrevista.

Apesar de afirmar que não ficou magoada com a saída, a ex-ministra afirmou que as reações foram muito rudes:

- Eu contrariei talvez muitos interesses. Então, as pessoas reagem de uma forma muito rude, não pensam que estão tratando de uma pessoa, de um ser humano, pensam que estão enfrentando uma força que está dando um encaminhamento à política que não é o que lhes interessa. Mas para isso eu fui muito forte. Eu sempre tive apoio da presidenta, sempre tive apoio do Planalto.

Ana afirmou que não ficaram ressentimentos, e que disse à presidente Dilma ser sua fã.

- Eu quero voltar para casa, quero ouvir muita música, ir ao cinema. Voltar a ser a Ana com todo meu lado pessoal, todas as emoções, poder viver naturalmente sem a responsabilidade de estar respondendo por outros, uma responsabilidade tão grande que é essa que eu tive nesses quase dois anos.