Título: Dilma envia recados na posse de Marta
Autor: Gois, Chico De, Pereira, Paulo Celso
Fonte: O Globo, 14/09/2012, O País, p. 16

Dilma envia recados na posse de Marta À nova ministra, presidente diz esperar avanços na Cultura; à ex, afirma que atuar no governo não é fácil.

Em cerimônia lotada, mas sem muitas estrelas do meio cultural, a presidente Dilma Rousseff oficializou ontem a troca no Ministério da Cultura com elogios e recados cifrados a Ana de Hollanda, que saiu, e a Marta Suplicy, que entrou, num arranjo político que tem como objetivo o embarque total da nova ministra na campanha de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo, embora Marta negue. Um orçamento mais robusto para o ministério - que acabou sendo a gota d"água para a queda de Ana de Hollanda - foi explorado pela presidente em seu discurso, que o reconheceu "como um legado" da ex-ministra.

- Trata-se de um aumento de 65% em relação ao Orçamento de 2012. Esse é um legado importante que a ministra Ana de Hollanda deixa para Marta Suplicy - afirmou a presidente.

Dilma agradeceu a colaboração de Ana de Hollanda, disse que a gestão dela na pasta não foi fácil e reconheceu que a ex-ministra enfrentou "de maneira estoica" pressões "muitas vezes injustas e excessivas", mas deu a entender que ela não deu conta do recado.

- Eu sei que nem sempre foi fácil. Mesmo porque esta experiência, que é o exercício de uma atividade no governo, raramente é fácil. Mas agradeço de coração por sua lealdade, pelo sacrifício da vida pessoal, pela maneira estoica com que enfrentou as pressões, muitas vezes injustas e excessivas. Agradeço, sobretudo, a dedicação com que cumpriu o seu papel - elogiou Dilma.

Sobre Marta, a quem chamou de amiga, teceu muitos elogios, lembrando a experiência dela no Executivo, mas fez várias referências a uma expectativa de que ela faça, de fato, a diferença no setor cultural.

- Tenho certeza de que a senadora e ex-prefeita, a minha amiga e companheira Marta Suplicy, está à altura do papel de levar à frente o Ministério da Cultura, transformando, a cada momento, a Cultura numa prioridade central do meu governo - discursou Dilma, para encerrar, depois: -Eu tenho certeza, Marta, de que você traz para o cargo grandes experiências e múltiplas qualidades que serão muito úteis para o meu governo. Eu tenho certeza que mais do que útil, para você, será muito útil para mim. Tanto é que eu te disse: Eu não peço só a Deus. Eu peço a você que coordene a área da Cultura, trabalhe por ela e a leve à frente.

"Eu faço, sei fazer, consigo fazer"

Marta Suplicy, que vestia um tailleur claro, contrastando com a blusa preta utilizada pela demissionária, elogiou a antecessora e, sobretudo, a presidente, qualificando-a de "forte, arretada e competente". Ela foi aplaudida várias vezes, e lembrou sua gestão à frente da prefeitura de São Paulo (2001-2004), citando alguns dos projetos que implementou.

Em entrevista coletiva após a cerimônia, a nova ministra disse que irá "mergulhar no ministério", estudar as ações da pasta, e que começará a trabalhar com humildade. Mas, sem modéstia, afirmou que foi escolhida por Dilma por causa de suas qualidades.

- Eu acho que ela (Dilma) explicou bem (a escolha). É porque eu faço, sei fazer, consigo fazer - disse, para, em seguida, negar que sua escolha tenha ocorrido em decorrência de seu apoio à candidatura de Haddad: - Não tem a ver com o Haddad, gente. O Haddad, eu disse que iria apoiar desde o começo. Falei para ele: "Haddad, eu vou entrar na campanha na hora em que eu fizer diferença. No começo, vai você. Você tem que fazer a relação com o público, com as lideranças petistas". Foi aquela frase: "Vai gastar a sola do sapato". Ele gastou a sola do sapato: está pronto, maduro para ganhar. Nessa hora nós vamos entrar e vamos pegar os votos do PT, os votos martistas. E vai ser uma trinca, nós vamos ganhar as eleições em São Paulo.

Em outra solenidade no Palácio do Planalto, à tarde, a presidente Dilma, abordada por jornalistas, não quis dar entrevista. Mas, perguntada se acreditava que a entrada de Marta na campanha de Haddad o levaria à vitória, brincou apenas:

- Como você é viva!