Título: BC americano adota estímulo agressivo
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Fonte: O Globo, 14/09/2012, Economia, p. 31

Fed comprará US$ 40 bi por mês em títulos hipotecários até que desemprego recue. Bovespa sobe 3,4%

O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciou ontem um agressivo programa de estímulo à economia americana, pelo qual vai comprar no mercado, mensalmente, US$ 40 bilhões em papéis lastreados em hipotecas. Esse programa será mantido até que o mercado de trabalho apresente melhora significativa e a inflação continue sob controle. Além disso, o Fed manterá a taxa básica de juros em seu patamar atual, no intervalo entre zero e 0,25%, pelo menos até meados de 2015. Em janeiro, o BC americano estimava manter os juros na mínima histórica até o fim de 2014. Em nota, o Fed afirmou que manterá uma política de acomodação "por um período considerável após o fortalecimento da recuperação econômica".

As bolsas de valores de todo o mundo refletiram o otimismo de que a ação do Fed dará impulso à maior economia do planeta. Em Nova York, o índice Dow Jones fechou em alta de 1,55%, enquanto Nasdaq e S&P subiram 1,33% e 1,63%, respectivamente.

O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), fechou em alta de 3,40%, aos 61.958 pontos, o maior avanço desde 27 de julho. É o maior patamar desde 3 de maio, último mês em que o índice ficou acima de 60 mil pontos.

Os mercados europeus e asiáticos fecharam antes do anúncio do Fed, portanto não houve altas significativas. Paris e Frankfurt recuaram 1,18% e 0,45%, respectivamente, puxadas pela queda de 10% da EADS, controladora do Airbus, que anunciou intenção de se unir à britânica BAE Systems (-7,3%). Londres subiu 0,65%. Tóquio avançou 0,39%, puxada pelo lançamento do iPhone 5.

A decisão do Fed de vincular sua política de afrouxamento monetário às condições macroeconômicas é inédita e marca um novo patamar em seus esforços para reduzir o desemprego nos Estados Unidos, atualmente em 8,1%.

- A situação do emprego continua sendo preocupante - afirmou o presidente do Fed, Ben Bernanke, em entrevista coletiva. - Enquanto a economia parece estar no caminho de uma recuperação moderada, não está crescendo rápido o bastante para fazer progressos significativos na redução da taxa de desemprego.

"Engoliu a chave das algemas"

Stephen Stanley, economista da corretora Pierpont Securities, disse à agência de notícias Reuters que, ao vincular suas compras de títulos à queda no desemprego, o Fed "basicamente trancou as algemas e engoliu a chave".

Representantes da oposição, no entanto, afirmaram que essa era uma tentativa de ajudar o presidente Barack Obama às vésperas da eleição, em novembro. Já assessores do candidato republicano, Mitt Romney, afirmaram que a ação do Fed comprova o fracasso do governo Obama.

- Deveríamos estar criando riqueza, não imprimindo dólares - afirmou Lanhee Chen, diretor de política da campanha de Romney.

As compras do Fed começam hoje mesmo. Este mês, serão US$ 23 bilhões em papéis lastreados em hipotecas. O Fed informou em nota que, além disso, manterá sua Operação Twist, que consiste na venda de títulos do Tesouro de curto prazo e na compra de papéis de longo prazo. O BC já gastou US$ 2,3 trilhões nessas operações desde o início da crise, segundo a Reuters.

Essas medidas, segundo o comunicado do Fed, "devem reduzir a pressão sobre as taxas de juros de longo prazo, ajudar os mercados hipotecários e contribuir para melhorar as condições financeiras gerais".

O Fed ainda melhorou suas projeções para a economia em 2013. O crescimento deve ficar entre 2,5% e 3%, contra intervalo anterior de 2,2% a 2,8%.

Mantega: atento ao efeito no Brasil

Em Brasília, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o governo não permitirá que a medida adotada pelo Fed prejudique o real.

- Estaremos atentos às possíveis repercussões da expansão monetária do Fed. Se houver a entrada indesejável de recursos no Brasil a curto prazo, tomaremos as medidas adequadas, caso haja alguma consequência. O fato é que não deixaremos acontecer uma valorização do real - afirmou Mantega.

Vladimir Caramaschi, estrategista-chefe do banco Crédit Agricole no Brasil, ressalta, porém, que com a medida do Fed haverá mais dólares no sistema, pressionando para baixo o valor da moeda americana.