Título: Rodrigo segue Garotinho contra causa gay
Autor: Schmitt, Luiz Gustavo ; Beck, Marcio
Fonte: O Globo, 18/09/2012, País, p. 7

De olho em evangélicos, candidato diz que DEM é conservador; para Paes, Rio não tolera preconceito

Na tentativa de reverter sua rejeição entre o eleitorado evangélico, o candidato a prefeito Rodrigo Maia (DEM) reafirmou ontem sua posição contra o casamento gay e a adoção de crianças por pessoas do mesmo sexo. Em entrevista ao RJTV, Rodrigo saiu em defesa do ex-governador Anthony Garotinho (PR), que, na sexta-feira, criticou o apoio do prefeito Eduardo Paes (PMDB), candidato à reeleição, às políticas de defesa dos direitos dos homossexuais. Paes condenou as declarações do ex-governador e contra-atacou: "Tenho desprezo por quem tem ódio".

Rodrigo endossou o discurso de Garotinho e disse que é "hipocrisia" o prefeito buscar votos do eleitorado homossexual e evangélico ao mesmo tempo. O democrata tem sua maior rejeição entre os eleitores evangélicos, com 38%, segundo o Datafolha.

- O nosso partido é um partido conservador. Todos sabem disso. O governador Garotinho falou de hipocrisia. Não falou nada contra os homossexuais, ao contrário. O que se tratou foi de uma hipocrisia de se tentar ter os dois lados (evangélico e homossexual) ao mesmo tempo - disse Rodrigo.

As declarações repercutiram mal entre os evangélicos e os homossexuais. Para o deputado estadual Samuel Malafaia (PSD) - irmão do pastor Silas Malafaia, presidente da Assembleia de Deus Vitória em Cristo - seu rebanho não pode apoiar Rodrigo Maia, que endossou um projeto de lei ( PL 122/2006), que criminaliza a homofobia.

- Esse projeto é uma aberração. Os evangélicos apoiam o candidato que defende todos os grupos. Não somos contra ninguém. Somos contra o homossexualismo - afirmou Malafaia.

- É uma temeridade tratarem desse tema como moeda política. Os Maias sempre foram apoiadores de nosso movimento. Dos Garotinhos, já sabíamos o que esperar. Difícil é ver um deputado como Rodrigo Maia, que já integrou a Frente Parlamentar pela Cidadania LGBT assumir essa postura por votos - disse Julio Moreira, do grupo Arco-Íris.

Para o cientista político Marcus Figueiredo, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp), a entrada de Garotinho no programa de Rodrigo Maia foi uma "atitude desesperada".

- Garotinho está alijado do processo político no Rio e decidiu criar problema, bem ao estilo dele. Os evangélicos têm restrição aos gays, mas isso não dá a ele uma saída eleitoral, porque Paes não oferece avanços ao homossexuais em relação ao que já está consagrado na legislação e na jurisprudência brasileira - analisou Figueiredo.

Ao contrário de Rodrigo, Paes defendeu direitos de homossexuais:

- Eu sou a favor da união civil de homossexuais e vou continuar apoiando. Essa é uma cidade diversa. Nessa cidade não cabe preconceito. Esse é um charme característico do Rio de Janeiro. Não vejo problema em continuar apoiando os movimentos gays da cidade e pedindo voto nas igrejas evangélicas - explicou o prefeito.

Os comentários de Garotinho criaram uma crise na campanha de Rodrigo Maia e levaram ao pedido de demissão do responsável pelo plano de governo do candidato, Marcelo Garcia - ex-secretário de Cesar Maia.

No último sábado, o PMDB obteve liminar junto ao TRE-RJ para a suspensão da propaganda em que Garotinho chamava Paes de "hipócrita" por apoiar o movimento LGBT e pedir votos da igreja evangélica.