Título: Empresários cobram licitações de petróleo
Autor: Rosa, Bruno ; Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 18/09/2012, Economia, p. 28

Governo, porém, afirma que novas rodadas só virão após aprovação de projeto sobre partilha de royalties

Foi um verdadeiro balde de água fria que o governo federal jogou nos empresários ontem, na abertura da Rio Oil & Gas, no Riocentro, no Rio de Janeiro. Minutos depois de o presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), João Carlos França de Luca, ter reivindicado a realização com a máxima urgência da 11ª Rodada de licitações de áreas para exploração no Brasil, o secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia, Marco Antônio Martins de Almeida, disse que não tem previsão para a realização da nova rodada. Desde 2008 não são realizadas rodadas.

- Infelizmente, não vou poder trazer a grande notícia que todo mundo queria ouvir. A 11ª Rodada ainda continua aguardando a aprovação do projeto de lei sobre os royalties no Congresso Nacional. Infelizmente, enquanto esse projeto não for votado, a 11ª rodada continua adiada, como também a primeira rodada do pré-sal no sistema de partilha - disse o secretário.

eleições podem levar a novo atraso

Especialistas acreditam que haverá mais um atraso na votação do projeto que prevê a nova distribuição dos royalties devido às eleições municipais.

Segundo o presidente do IBP, com a ausência de novas licitações, as empresas que estão explorando petróleo no país estão praticamente no seu limite, já concluindo suas operações, sem perspectivas de continuidade:

- A gente compreende a parada para se discutir o novo modelo para o pré-sal. Mas ninguém esperava que essa interrupção fosse por um período tão longo. As empresas estão no limite.

De Luca destacou que, sem novas áreas para explorar, as empresas de grande porte podem buscar outros projetos fora do Brasil. No entanto, para as pequenas e médias empresas brasileiras, a situação é mais grave. Pode significar o fim dessas empresas, afirmou.

Por sua vez, Magda Chambriard, diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), sem poder anunciar quando realizará a 11ª rodada, preferiu destacar o grande potencial que há nas bacias sedimentares em áreas do pós-sal. Segundo a diretora da ANP, cerca de 95% das bacias sedimentares não são ainda conhecidas, uma vez que apenas cerca de 5% estão sendo exploradas atualmente. Segundo Magda, o potencial de petróleo e gás em outras áreas fora do pré-sal é muito grande:

- Os dados até então coletados pela agência indicam grande potencial para petróleo e gás em nossas bacias de novas fronteiras. Tanto para recursos convencionais como para não-convencionais (gás natural em rochas).

Enquanto a ANP evitou o assunto, os principais estados produtores de petróleo, como Rio e Espírito Santo, cobraram agilidade para a aprovação do projeto de lei sobre a partilha dos royalties. Para o governador do Espírito Santo, José Renato Casagrande (PSB), o fato de 2012 ser um ano eleitoral pode dificultar a votação do projeto de lei:

- Em outubro, tem as eleições. Depois tem o orçamento (de 2013) e depois vem o recesso. Isso torna tudo mais difícil, mas ainda acho que dá para chegarmos a um acordo. Agora, se houver insistência para romper contratos, não haverá acordo.

O governador se referia aos contratos dos blocos de exploração já firmados sob o regime de concessão. Uma das propostas em tramitação no Congresso é rever esses contratos, alterando a distribuição dos royalties de acordo com as novas diretrizes. Julio Bueno, secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado do Rio, afirmou que o imbróglio das rodadas de licitações só será resolvido quando a bancada aliada tomar para si esta questão como prioritária.

Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, presidente do Sistema Firjan, que reúne as indústrias do Rio, também cobrou a realização das rodadas de licitações.

R$ 3 bilhões para cadeia local

O ministro da Ciência e Tecnologia, Marco Antônio Raupp, apresentou ontem o edital do Inova Petro, que vai destinar R$ 3 bilhões para desenvolver a cadeia de fornecedores de óleo e gás no país. Eduardo Eugênio, da Firjan, listou alguns projetos de pesquisa e desenvolvimento para o setor que estão sendo realizados no Rio. Estão sendo construídos nove ambientes de simulação, que treinam operadores para trabalhar em plataformas, no CTS em Benfica, na zona Norte do Rio, com foco no pé-sal.

A Petrobras acaba de eleger ainda, disse Eduardo Eugênio, a CTS Solda, na Tijuca, para ser o laboratório de excelência no país em soldagem.

Sustentabilidade

Shell vai produzir mais gás que petróleo

Pela primeira vez, a produção de gás da Shell ultrapassará a de petróleo no mundo neste ano, informou ontem o presidente da companhia no Brasil, André Araújo, na 16ê edição da Rio Oil & Gas, no Riocentro. O feito resultou de uma combinação de descobrimentos de grandes jazidas do combustível e de investimentos em tecnologia para desenvolver combustíveis menos poluentes do que o petróleo.

- Nós identificamos que o gás natural é o menos poluente entre os combustíveis fósseis e investimos - disse Araújo.

A contribuição do Brasil para essa virada deve vir do bloco que a Shell tem na Bacia de São Francisco (MG), cujo primeiro poço deve ser perfurado em 2013. A empresa quer produzir gás não convencional (a partir do xisto) na região. Hoje, a Shell produz cerca de 60 mil barris de petróleo por dia no Brasil.