Título: BC japonês lança pacote de estímulos de US$ 127 bilhões
Autor: Neto, João Sorima ; Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 20/09/2012, Economia, p. 29

Medida puxa mercados da Ásia a NY, mas Bolsa de SP recua 0,25%

TÓQUIO, NOVA YORK, SÃO PAULO e BRASÍLIA O Banco do Japão, o banco central do país, anunciou ontem um novo pacote de estímulo monetário, uma vez que a desaceleração da demanda global e as tensões com a China afetam as chances de uma recuperação a curto prazo. O BC ampliou em 10 trilhões de ienes (US$ 127 bilhões) o programa de compra de ativos e empréstimos financeiros, atingindo 80 trilhões de ienes (US$ 1,02 trilhão) - cerca de um quinto da economia japonesa.

- As economias de outros países estão desacelerando mais do que esperávamos - afirmou o presidente do BC japonês, Masaaki Shirakawa. - A recuperação econômica do Japão pode se atrasar em um semestre.

Ele assegurou que a decisão se deveu aos indicadores do país, não ao estímulo anunciado pelo Federal Reserve, o BC americano, na semana passada. Os recursos extras do programa, hoje a principal ferramenta do Banco do Japão para estimular a economia, serão destinados à compra de títulos do governo. Seu prazo foi ampliado em seis meses, para dezembro de 2013.

Como esperado, a taxa básica de juros foi mantida entre zero e 0,1%. O BC japonês ainda estimou que a economia, por enquanto, não crescerá.

O anúncio do pacote japonês animou os mercados. Tóquio avançou 1,19%, e Hong Kong, 1,16%. Já Londres teve alta de 0,35%, enquanto Frankfurt e Paris subiram 0,59% e 0,54%, respectivamente. Em Wall Street, ainda pesou a alta de 7,8% na venda de imóveis em agosto. O índice Dow Jones avançou 0,10%. Nasdaq e S&P tiveram ganhos, respectivamente, de 0,12% e 0,15%.

Dólar avança 0,19%, a R$ 2,027

O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), chegou a subir mais de 1% de manhã com o pacote japonês. Mas à tarde, perdeu força e acabou fechando em queda de 0,25%, aos 61.651 pontos, com volume negociado de R$ 7,2 bilhões. O recuo se deveu aos papéis de Vale e Petrobras, influenciados pela queda nos preços das commodities . No mercado de câmbio, no segundo dia sem atuação do BC, o dólar encerrou em alta de 0,19% frente ao real, cotado a R$ 2,027.

- O preço do barril de petróleo encerrou em queda de 3,5%, a US$ 91,98, e o índice de metais da Bolsa de Nova York caiu. Isso fez o Ibovespa perder força - diz o operador da corretora Renascença Luiz Roberto Monteiro.

O papel preferencial (PNA, sem direito a voto) da Vale caiu 1,09%, a R$ 37,84, e Petrobras PN recuou 2,28%, a R$ 22,69. Entre as demais ações com forte peso na Bolsa, OGX Petróleo ON avançou 2,01%, Itaú Unibanco PN subiu 0,05%, e PDG Realty ON perdeu 0,49%.

Já o BC informou ontem que o Brasil registrou uma entrada líquida de quase US$ 2 bilhões no mercado financeiro somente na semana passada, o que fez o fluxo ficar positivo em US$ 460 milhões. Segundo especialistas, isso reflete fortes captações de empresas como a Vale, não o estímulo do Federal Reserve - que o governo teme que provoque uma enxurrada de dólares no Brasil.

Para o especialista em câmbio Sidney Nehme, isso não deve ocorrer, porque a medida foi apenas uma repetição de decisões anteriores e o Brasil não é tão atraente como antes, já que os juros estão em seu menor nível histórico:

- O mercado cria essa expectativa de tsunami só para alavancar a Bolsa.

Desde janeiro, o Brasil recebeu US$ 23,5 bilhões líquidos, incluindo operações de comércio exterior e do mercado financeiro. É praticamente um terço do registrado no mesmo período de 2011.