Título: Dirceu será julgado às vésperas da eleição
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 21/09/2012, País, p. 6

Gurgel aprova método do relator Joaquim Barbosa e diz que divisão do voto não teve motivação política

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou ontem que o provável julgamento do ex-ministro José Dirceu e outros integrantes da antiga cúpula do PT por corrupção no processo do mensalão, às vésperas das eleições municipais, não deverá ter impacto nos eleitores. Segundo Gurgel, a sociedade brasileira está madura para entender problemas dessa natureza. As acusações de corrupção ativa que pesam contra Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares são partes cruciais da denúncia do mensalão.

A análise das denúncias de corrupção ativa contra Dirceu, Genoino, Delúbio Soares e Marcos Valério, acusado de ser o operador do mensalão, deverá ocorrer na semana do primeiro turno das eleições (7 de outubro), porque o relator do caso, ministro Joaquim Barbosa, decidiu dividir em dois blocos a apreciação sobre o chamado núcleo político do processo. Agora, estão sendo julgados os acusados de receber dinheiro do PT, casos de corrupção passiva. Depois, será a vez dos pagadores do mensalão, casos de corrupção ativa.

- Acho que não. Na verdade, o que sempre se falou é que o julgamento teria impacto nas eleições, mas o julgamento precisa ocorrer da forma mais adequada - disse Gurgel, quando perguntado se o novo fatiamento do processo poderia influenciar as eleições.

O procurador negou que o fatiamento do capítulo sobre corrupção por Barbosa tenha motivação política. Barbosa decidiu separar a análise da denúncias em dois blocos na segunda-feira. A partir de então, buscou o apoio do revisor, Ricardo Lewandowski, e dos demais ministros. Lewandowski disse que concluirá o seu voto sobre os casos de corrupção passiva na próxima segunda-feira.

Os outros ministros devem votar sobre o mesmo assunto até a próxima quinta-feira. Na semana seguinte, reta final da campanha eleitoral, Barbosa iniciaria o voto sobre corrupção.

- Parece-me que ele (Barbosa) está sendo coerente com o método que vem utilizando para fazer esses desdobramentos. Se ele abordasse a corrupção ativa, o voto dele acabaria se prolongando por muito tempo. Evidentemente, em nada se relaciona com as eleições.

Gurgel disse ainda que o julgamento do mensalão será um divisor de águas. Para ele, a confirmação das condenações deverá reduzir práticas da política como caixa dois e compra de votos, entre outros ilícitos.

- Acho que esse julgamento é um marco na História do país. E, se o resultado for aquele que o Ministério Público espera, não tenho dúvida de que ele repercutirá, sim. Certas práticas, infelizmente muito frequentes na política brasileira, tendem pelo menos a ser reduzidas ou a despertar uma preocupação e um temor maior na parcela de pessoas que realizam frequentemente essas práticas - disse Gurgel.

Gurgel frisou que a decisão do STF deverá servir de parâmetro para outros casos em tramitação em outros tribunais, como o mensalão do DEM, supostamente chefiado pelo ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda.