Título: Olhos atentos na Rocinha
Autor: Costa, Célia
Fonte: O Globo, 21/09/2012, Rio, p. 14

Comunidade ganha UPP com 700 PMs e 100 câmeras para auxiliar no patrulhamento

Considerada por décadas uma das favelas mais conflagradas do país e cenário de violentas guerras do tráfico, a Rocinha ganhou ontem a maior Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Rio. Além dos 700 policiais militares, a comunidade com 69 mil moradores será vigiada por cem câmeras. Os PMs também vão contar com 12 motocicletas para patrulhar becos e vielas e usarão rádios com localizadores por GPS. Outra novidade é um sistema que permitirá aos policiais fazer consultas no computador sobre antecedentes criminais de suspeitos detidos. Com mais essa UPP, a 28ª da capital, já são 376.725 cariocas livres do poder paralelo do tráfico armado em toda a cidade.

A Rocinha foi ocupada pelas forças de segurança em 13 de novembro de 2011. Desde então, ocorreram 12 mortes na favela, incluindo as de dois PMs. Desde março, a comunidade vinha sendo patrulhada por 408 PMs.

Em seu discurso na cerimônia de inauguração da UPP, o governador Sérgio Cabral disse que a pacificação é um processo e que bandidos vão continuar enfrentando a polícia para tentar recuperar o território perdido.

- Não temos nenhum tipo de ilusão, esta é uma comunidade onde a marginalidade vai continuar tentando entrar - disse o governador. - Antigamente, a polícia era a invasora. Nesse episódio recente, no qual perdemos um policial (o soldado Diego Bruno Barbosa Henriques, morto no dia 13 passado), foi o contrário: o bandido é que tentou invadir a Rocinha. A polícia vai ficar para sempre aqui, como está em São Conrado, como está no Leblon.

A Secretaria de Segurança informou que ainda não tem data para instalar o sistema de câmeras, que pode se estendido ao Vidigal e à Chácara do Céu. Outras duas favelas pacificadas, Dona Marta (Botafogo) e Batam (Realengo), já têm equipamentos de vigilância.

Os complexos do Alemão e da Penha têm em suas oito UPPs 2.150 policiais, uma média de 270 por unidade.

Sede será em Área que tráfico usava

A sede da UPP da Rocinha será no Parque Ecológico, na parte alta da comunidade. No local onde será erguido o prédio - provisoriamente, os policiais trabalharão em contêineres -, traficantes costumavam se reunir para fazer churrasco. A UPP, que será comandada pelo major Edson Raimundo dos Santos, terá ainda oito bases avançadas. Devido à topografia da favela - 92,5% do território não são acessíveis a veículos de quatro rodas -, a polícia foi obrigada a redimensionar o patrulhamento, para que seja feito a pé.

Entre os moradores, o clima era de expectativa e esperança.

- Espero que a situação melhore ainda mais, porque já melhorou. Hoje, a gente tem mais tranquilidade para criar nossos filhos. As crianças não são mais obrigadas a ver as coisas que viam antes - disse Adenir Correa de Souza, de 62 anos, 57 deles vividos na Rocinha, na Rua do Valão, onde havia uma das mais movimentadas bocas de fumo da comunidade.

A moradora, no entanto, disse que ainda há muito a fazer:

- Ainda é preciso que melhorem os serviços básicos, como coleta de lixo, saneamento e iluminação.

Na cerimônia, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse que agora começa a etapa mais difícil:

- A missão da pacificação é eterna, é um trabalho que não termina nunca. Ocupar é a parte mais fácil. Sedimentar o processo é mais complicado. Depende da polícia e da comunidade, mas também de ações que tragam cidadania para os moradores.