Título: Desemprego em queda livre
Autor: Setti, Renan ; Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 21/09/2012, Economia, p. 25

Taxa cai para 5,3%, melhor agosto desde 2002. Mas Caged mostra freio no emprego formal

A taxa de desemprego caiu para 5,3% em agosto, o menor patamar para esse mês desde 2002, quando teve início a atual série histórica, informou ontem o IBGE. Em agosto do ano passado, o desemprego ficara em 6%. A taxa, que considera a procura por emprego e ainda as vagas formais e informais nas seis maiores regiões metropolitanas do país, foi também a mais baixa desde dezembro (4,7%).

Mas, segundo dados do Ministério do Trabalho, o emprego formal perdeu fôlego. A criação de vagas com carteira registrou em agosto saldo de 100.938 empregos, no pior resultado para o mês em nove anos. Esses números, porém, incluem as vagas abertas no setor privado em todo o país, e não só nas regiões metropolitanas.

O IBGE também divulgou ontem as taxas de desemprego de julho (5,4%) e de junho (5,9%), cujos números só foram conhecidos agora porque a greve dos servidores do instituto atrasou a análise dos dados. Assim, o desemprego mostra uma trajetória consistente de queda nos últimos três meses.

Cimar Azeredo, gerente da pesquisa do IBGE, citou como destaque a indústria, que gerou 100 mil dos 155 mil novos postos de trabalhos de julho para agosto, embora seu contingente de trabalhadores hoje (3,7 milhões) seja praticamente o mesmo de 2011.

O rendimento real dos trabalhadores subiu 1,9% frente a julho e atingiu R$ 1.758,10. Na média dos oito meses do ano, ficou em R$ 1.744,15, recorde para o período. Para o gerente do IBGE, as medidas de estímulo à economia feitas pelo governo contribuíram para o bom momento do mercado de trabalho.

- O rendimento médio cresceu 2,3% sobre 2011. Ou seja, o poder de compra aumentou. Se você estimula o consumo em um cenário desse, certamente haverá mais contratações - observou.

O economista João Saboia, da UFRJ, lembra que, apesar de a economia brasileira estar crescendo pouco (o avanço foi de somente 0,6% no primeiro semestre), o setor de serviços, que emprega mais, está aquecido.

- A economia está mesmo lenta, mas a atividade que mais sofre é a indústria de bens duráveis e bens de capital (máquinas e equipamentos), pouco intensivas em mão de obra.

Segundo Mariana Hauer, do banco ABC Brasil, o alto custo de demitir e contratar e a dificuldade de encontrar mão de obra qualificada pesam:

- O empresário prefere dar férias coletivas ou diminuir a carga horária a mandar o funcionário embora.

Diminui a procura por emprego

Depois de ligeira recuperação em julho, o mercado formal de trabalho voltou a desacelerar e registrou em agosto saldo de 100.938 empregos. Em relação a agosto de 2011, quando foram criados 190.446 postos, o recuo foi de 46,9%. Frente a julho, a queda foi de 29,16%.

No acumulado do ano, foram abertas 1.378 milhão de vagas, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Na comparação com o mesmo período de 2011, a queda é de 24,49%. O ministério estima que neste ano sejam gerados entre 1,5 milhão e 1,7 milhão de empregos. Foram dois milhões em 2011.

Em agosto, houve desaceleração em todos os setores da economia. O mais afetado foi a construção civil, que recuou 64,32% frente a agosto de 2012.

Sobre as diferenças entre os dados do Caged e do IBGE, Anselmo Santos, da Unicamp, chama atenção para as diferenças metodológicas. A pesquisa do IBGE abrange seis regiões metropolitanas, enquanto a do ministério registra as movimentações em todo o país. O Caged só trata de empregos com carteira assinada no setor privado; o IBGE considera também informais, empregadores e funcionários públicos.

- A taxa do IBGE está caindo também porque a procura por emprego caiu. O ritmo de entrada de jovens no mercado de trabalho diminuiu, porque há menos jovens no Brasil e porque o ganho da renda das famílias permite a eles estudar por mais tempo - disse.