Título: Na estrada, a desvantagem é de Chávez
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 21/09/2012, Mundo, p. 32

Oposição vai a 22 estados na Venezuela contra efeito da propaganda estatal

Desde que foi dada a largada na campanha eleitoral venezuelana, há 11 semanas, a chamada Caravana do Progresso, do candidato da oposição, Henrique Capriles, já percorreu 22 estados, passando por 260 cidades. No mesmo período, o presidente Hugo Chávez, que tentará obter seu terceiro mandato consecutivo, após 14 anos de governo, visitou apenas 13 estados, excluindo do itinerário Mérida, Monagas, Nueva Esparta, Barinas (sua terra natal), Cojedes, Falcón, Yaracuy e Trujillo. Esses mesmos estados foram cenário de ao menos dois comícios de Capriles, que transformou sua presença física em todo o país na principal arma eleitoral para compensar a constante presença de Chávez na mídia e o bombardeio de propaganda chavista nas ruas.

Nesta semana, o Palácio Miraflores programou uma cadeia de rádio e TV do presidente no mesmo horário em que Capriles anunciou seu programa de descentralização do poder a prefeitos e governadores. A decisão do governo foi considerada "um novo abuso do chavismo" pela campanha do opositor.

As leis venezuelanas permitem apenas três minutos por dia de propaganda eleitoral na mídia audiovisual. Mas segundo monitoramento dos candidatos realizado pela Universidade Católica Andrés Bello (Ucab), Chávez é o principal infrator da norma. No início da campanha, 80% do espaço de propaganda em todos os meios de comunicação foram ocupados pelo bolivariano.

- Em 8 de setembro passado, uma emissora de rádio alinhada com o governo transmitiu três horas de propaganda eleitoral chavista, quando o permitido são três minutos - disse ao GLOBO Caroline De Oteyza, da Ucab.

CONVITE PARA ENCONTRO COM DILMA

Segundo a professora, os meios estatais não permitem a presença do opositor, e os meios privados adotaram atitude cautelosa, por medo de retaliações.

- A única exceção são os jornais impressos, como "El Nacional" ou "El Universal". Mas Capriles precisava mostrar-se mais; por isso está caminhando por todo o país - enfatizou.

A agenda do opositor é frenética - como a do próprio Chávez em sua primeira campanha, em 1998. Capriles já protagonizou 62 viagens, contra apenas 18 realizados pelo presidente. Ontem, a grande promessa da oposição esteve em Bolívar e Anzoátegui, um dia após ter incluído um encontro internacional na campanha: uma reunião com o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, em Bogotá. Em sua coluna online, o jornalista Nelson Bocaranda diz não se tratar de iniciativa isolada. O ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, teria pedido à Maria Ángela Holguín, chanceler colombiana, que transmitisse o interesse em convidá-lo para um encontro com a presidente Dilma Rousseff antes da eleição. Chávez já estaria a par do caso. O Itamaraty negou e disse que "a informação não tem qualquer fundamento".

Chávez, de outro lado, tem movimentos mais limitados. Ele marcou presença em atos de campanha no interior e na capital, mas, em geral, está sempre no palco ou em caminhão. Praticamente não caminhou entre ruas e avenidas como em campanhas passadas, até mesmo como na de 2006, quando já era o homem mais poderoso do país.

Para José Vicente Carrasquero, professor da Universidade Simón Bolívar, as campanhas no país são como a de Capriles. Desta vez, Chávez destoa:

- A única explicação sensata está relacionada à saúde do presidente.

Para o analista venezuelano, a caravana construiu a imagem de um opositor ativo, jovem e com muita força, que entusiasmou muitas pessoas.

- Já Chávez é visto como o candidato velho e deteriorado após 14 anos de gestão. Não está claro se Capriles vai conseguir derrotar o chavismo, mas está claro que está fazendo a melhor campanha opositora da era Chávez.