Título: PIB do petróleo deverá dobrar até 2020
Autor: Ordoñez, Ramona ; Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 17/09/2012, Especial, p. 2

Mercado prevê demandas de US$ 400 bi no setor e 2,5 milhões de empregos

A perspectiva de um novo patamar na produção de petróleo e gás no Brasil, principalmente por causa do pré-sal, está impulsionando o setor de tal forma que sua participação atual de 12% no Produto Interno Bruto (PIB) nacional pode dobrar nos próximos oito anos, chegando a 20%, segundo o Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP). Estimativas endossadas pela Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), que prevê uma geração de 2,5 milhões de empregos no setor nesse período e US$ 400 bilhões em novas demandas por equipamentos e serviços.

Essa indústria deve receber um total de US$ 266 bilhões em investimentos entre este ano e 2016, segundo a previsão do IBP. Tamanha prosperidade vem abrindo caminho para a expansão das encomendas em diversos setores da cadeia de suprimentos. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), este ano, a produção industrial do setor cresceu 10%, as importações ultrapassaram os 30%, e as empresas vão contar com cerca de 15% dos US$ 45 bilhões de investimentos da Petrobras destinados à cadeia produtiva.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, acredita que o setor vai mudar o panorama industrial brasileiro.

- A cadeia de fornecedores para a área de exploração, refino e petroquímica vai crescer de forma vigorosa - disse Coutinho no início deste mês, durante a apresentação dos resultados do BNDES até agosto.

Para fomentar a indústria nacional, o Ministério de Minas e Energia coordena com a Petrobras o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás (Prominp) para capacitação de mão de obra e monitoramento da evolução do conteúdo local - medida que estabelece para as empresas metas de aquisição de bens e serviços nacionais.

Setor naval do Rio movimenta R$ 15 bilhões

- Desde 2006, o Prominp qualificou 90 mil profissionais e a participação da indústria nacional nos investimentos do setor evoluiu de 57% em 2003 para 76% no fim de 2011 - afirma Paulo Sérgio Rodrigues Alonso, coordenador- executivo do Prominp.

É fato que o conteúdo local já mudou o cenário brasileiro, com sinais de estímulos até mesmo em outros setores. Neste ano, o avanço do segmento offshore já gerou 179 encomendas na construção naval, segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshores (Sinaval).

O Estado do Rio é o maior beneficiado, principalmente por ser responsável por 75,5% da produção nacional de petróleo e gás, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Não é à toa que a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) prevê uma movimentação de quase R$ 15,4 bilhões até dezembro de 2014 no setor naval fluminense, o que deve gerar um aumento de mais de 60% na geração de empregos.

O movimento já se reflete nos planejamentos de empresários do setor. Um deles é Gisela MacLaren, dona do estaleiro em Niterói que tem o mesmo sobrenome de sua família e foi fundado, em 1938, por seu avô.

- Nos próximos dois anos, a MacLaren Oil vai implementar um programa de modernização e ampliação em suas instalações industriais - revela a empresária sobre a obra, estimada em R$ 30 milhões.

Com tantas apostas no potencial do mercado brasileiro, há desafios cada vez maiores. O coordenador-executivo do Prominp diz que o crescimento exige um grande esforço para qualificação de profissionais e de bens e serviços. Ele alerta que o país já está no limite para conseguir atender completamente à demanda do setor.

A urgência no avanço tecnológico nacional parece ser o principal consenso entre pesquisadores da área. O diretor-geral da Coppe/UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa, é um dos principais entusiastas do argumento.

- Agora, com o óleo e o gás, o Brasil tem a oportunidade de tirar o atraso tecnológico, investir nisso e formar bons engenheiros. Isso tudo é uma esperança - afirma Pinguelli.

Já o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Gomes de Almeida, acredita que a indústria da Noruega deve servir de exemplo para o Brasil crescer.

- Precisamos seguir o modelo norueguês, que fez com que todo o país, incluindo a indústria, se desenvolvesse com o petróleo - diz.