Título: Planalto sinaliza apoio a Renan no Senado
Autor: Krakovics, Fernanda
Fonte: O Globo, 15/09/2012, O País, p. 6

Dilma já não faz objeção a alagoano para presidir Casa

Antecedente. Renan já deixou cargo

BRASÍLIA A sucessão na presidência do Senado já está pacificada no PMDB e no Palácio do Planalto. Embora seu preferido fosse o ministro Edison Lobão (Minas e Energia), a presidente Dilma Rousseff enviou recados para o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL), por meio do vice-presidente Michel Temer e do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), de que não tem objeção a sua candidatura.

A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) também conversou com o próprio Renan e afirmou que o governo não vai interferir. O que o Palácio do Planalto quer é a garantia de que não haverá crise institucional e que o Senado continuará votando os projetos de interesse do Executivo.

Um dos temores do governo é que a candidatura de Renan ressuscite antigas denúncias contra ele e cause instabilidade no Legislativo. Acusado de ter despesas pessoais pagas por um lobista de uma empreiteira, Renan teve que deixar a presidência do Senado em 2007 para evitar a cassação de seu mandato.

No xadrez político, Sarney, cacique do grupo a que pertence Lobão, prefere que o afilhado político continue no Ministério de Minas e Energia para preservar sua influência e cargos no setor elétrico. O sucessor natural de Lobão na pasta seria o secretário-executivo Márcio Zimmermann, que, apesar de recém-filiado ao PMDB, é um nome de Dilma.

PMDB quer cargo para Cabral

Ainda nesse cenário, o PMDB quer emplacar o governador Sérgio Cabral, que pretende encurtar seu mandato, na Autoridade Pública Olímpica (APO). O governador está decidido a deixar o Palácio Guanabara em dezembro do próximo ano para beneficiar seu vice, Luiz Fernando Pezão, e o prefeito Eduardo Paes.

Com a saída de Cabral em dezembro de 2013, Pezão teria dez meses até as eleições para ganhar musculatura e disputar a reeleição. A estratégia pavimentaria o caminho de Eduardo Paes para ser candidato a governador do Rio em 2018. Concorrendo ao governo no exercício do mandato, Pezão ficaria impossibilitado de disputar de novo a eleição em 2018.

Apesar da disposição do Palácio do Planalto, a candidatura de Renan não deve ser uma unanimidade. Senadores do PMDB que integram o grupo dos independentes articulam uma candidatura avulsa para enfrentá-lo. Pelo regimento do Senado, o PMDB, por ser a maior bancada, tem direito à presidência da Casa. Mas esse grupo está incentivando os senadores Pedro Taques (PDT-MT) ou Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) a entrarem na disputa.

- Algumas pessoas estão incentivando, mas não estou pensando nisso ainda - afirmou Taques.

Além do temor de que a candidatura de Renan gere uma crise no Senado, o objetivo da presidente Dilma ao incentivar o lançamento do nome de Lobão era dividir o PMDB, diminuindo o potencial do partido de fazê-la refém.

Governistas avaliam, no entanto, que o Planalto errou na estratégia política. Ao lançar a pré-candidatura de Lobão muito cedo - no primeiro semestre deste ano - e de forma tão aberta, Dilma ajudou a queimar o nome do ministro, e seu gesto foi interpretado como uma interferência do Executivo no Legislativo.

Mesmo em um aparente céu de brigadeiro, Renan, que é um político experiente, tem optado pela discrição. Só colocará sua candidatura na rua às vésperas da eleição, que acontece em fevereiro. Até lá, os movimentos são todos de bastidores.