Título: Dilma cobra pacto anticrise
Autor: Godoy, Fernanda ; Barbosa, Flávia
Fonte: O Globo, 26/09/2012, Economia, p. 23

Na Assembleia Geral, presidente critica ricos e pede ação global para retomar crescimento

Crítica. Dilma na ONU: "Formas legítimas de defesa comercial não podem ser classificadas como protecionismo"

recado na onu

A presidente Dilma Rousseff cobrou ontem na abertura da 67ª Assembleia Geral das Nações Unidas um pacto global pelo crescimento, com engajamento especial dos países ricos, para que o mundo supere a conjuntura de crise configurada desde 2008, com a quebra do banco americano Lehman Brothers. Na primeira parte do discurso de 25 minutos, Dilma mais uma vez disparou críticas ao mundo desenvolvido, que segundo ela ainda patina no falso dilema entre políticas de estímulo à economia e austeridade fiscal, com consequências deletérias para as populações desses países e para as nações emergentes. Para Dilma, "é urgente a construção de um amplo pacto pela retomada do crescimento global":

- A consolidação fiscal só é sustentável em um contexto de recuperação da atividade econômica. A história revela que a austeridade, quando exagerada e isolada do crescimento, derrota a si mesma. A opção do Brasil tem sido a de enfrentar simultaneamente esses desafios - afirmou a presidente. - Superamos a visão incorreta que contrapõe, de um lado, as medidas de incentivo ao crescimento e, de outro, os planos de austeridade. Esse é um falso dilema.

Dilma disse que é preciso fortalecer os mecanismos multilaterais de cooperação, como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e o G-20 (grupo das 20 maiores economias).

- Essa coordenação deve buscar reconfigurar a relação entre política fiscal e monetária, para impedir o aprofundamento da recessão, controlar a guerra cambial e reestimular a demanda global - disse.

Dilma afirmou que, entre os discursos de setembro de 2011 e de ontem, a crise econômica global ganhou "novos e inquietantes contornos", com a insistência dos países ricos em adotar medidas fiscais recessivas e uma política monetária expansiva. Esta, ao irrigar as economias mais fortes com dinheiro, desequilibra a taxa de câmbio das nações emergentes.

E, quando os emergentes tomam ações de defesa comercial para se salvaguardar, são acusados de protecionistas, criticou Dilma. Na semana passada, o representante de Comércio dos EUA, Ron Kirk, enviou carta ao Itamaraty taxando de protecionismo o aumento na alíquota de importação de cem produtos pelo Brasil. O presidente dos EUA, Barack Obama, estava nos bastidores do plenário da ONU ouvindo o discurso de Dilma, que antecedeu o do americano.

- Não podemos aceitar que iniciativas legítimas de defesa comercial por parte dos países em desenvolvimento sejam injustamente classificadas como protecionismo. Devemos lembrar que a legítima defesa comercial está amparada pelas normas da Organização Mundial do Comércio - defendeu Dilma.

Para a presidente, o aumento artificial de competitividade - uma referência às políticas monetárias expansivas de EUA, China e integrantes da zona do euro - é que deve ser eliminado:

- O protecionismo e todas as formas de manipulação do comércio devem ser combatidos, pois conferem maior competitividade de maneira espúria e fraudulenta.

Mais tarde, em entrevista coletiva, Dilma reiterou seu recado aos países ricos:

- Não adianta nada ficar fazendo classificação (sobre quem é ou não protecionista). O que adianta é que tenhamos uma compreensão de que, desta situação (de crise), todos sofremos as consequências.