Título: Dilma rejeita preconceito contra Islã e ação militar anti-Assad
Autor: Barbosa, Flávia
Fonte: O Globo, 26/09/2012, Mundo, p. 32

Presidente também pede Estado palestino e fim do embargo a Cuba

Na assembleia geral da onu

NOVA YORK A presidente Dilma Rousseff reafirmou ontem a posição contrária do Brasil a intervenções militares em países em conflito sem autorização do Conselho de Segurança da ONU, num claro recado às potências internacionais. Antecipando-se à crescente pressão por uma ofensiva ocidental para derrubar o regime do ditador Bashar al-Assad, Dilma afirmou não haver solução militar para "a gravíssima situação" da Síria e que ações paralelas às Nações Unidas são ilegais e inaceitáveis.

O governo brasileiro teme que se repita em território sírio uma intervenção militar como a na Líbia, que levou à queda do ditador Muamar Kadafi, e avalia que a coalizão liderada por França, Reino Unido e EUA extrapolou as atribuições do Conselho de Segurança:

- Não podemos permitir que este Conselho seja substituído, como vem ocorrendo, por coalizões que se formam à revelia, fora de seu controle e à margem do Direito Internacional. O uso da força sem autorização do Conselho, uma clara ilegalidade, vem ganhando ares de opção aceitável. Mas, definitivamente, não é - afirmou a presidente em seu discurso, que abriu a 67ª Assembleia Geral da ONU.

Dilma disse que o impasse no Conselho (China e Rússia têm vetado ações contra a Síria) não pode servir de justificativa para uma ação armada:

- Lanço um apelo às partes em conflito para que deponham armas e juntem-se aos esforços do representante especial da ONU e da Liga Árabe. Não há solução militar para a crise síria.

REUNIÃO COM MURSI EM 2013

A presidente foi bastante aplaudida ao repudiar episódios de preconceito contra o Islã no Ocidente, numa referência ao vídeo ofensivo a Maomé que desencadeou violentos protestos no mundo muçulmano. Dilma também voltou a defender o fim do embargo econômico a Cuba e a criação do Estado palestino.

A presidente manteve encontros bilaterais com o secretário-geral Ban Ki-moon e o presidente do Egito, Mohamed Mursi - que cancelou uma vinda ao Brasil devido aos distúrbios recentes no Cairo. A reunião, porém, já foi remarcada para 2013.

- O Egito tem 90 milhões de habitantes e problemas similares aos que o Brasil enfrentou. Eles estão muito interessados em programas sociais.

Dilma também se reuniu com o presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono, e conversou, por telefone, com o premier turco, Recep Tayyip Erdogan, sobre a Síria. À noite, estava previsto um encontro com o ex-presidente americano Bill Clinton.