Título: Barbosa e Marco Aurélio ampliam confronto entre ministros no STF
Autor: Souza, André de ; Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 28/09/2012, País, p. A4

Relator do mensalão reage duramente a crítica do colega sobre sua postura

BRASÍLIA Até agora, os embates no julgamento do mensalão vinham sendo travados quase sempre entre o relator Joaquim Barbosa e o revisor Ricardo Lewandowski. Ontem, no entanto, o novo round foi entre Marco Aurélio Mello e Barbosa. Os dois se criticaram duramente, mostrando como está o clima no STF.

Marco Aurélio lançou dúvidas sobre a maneira como Barbosa vai presidir a Corte a partir de novembro, com a aposentadoria do atual presidente, ministro Ayres Britto. Na última quarta-feira, Barbosa se irritou várias vezes com Lewandowski, que divergiu dele em alguns pontos. Na ocasião, Marco Aurélio e outros ministros saíram em socorro de Lewandowski.

Ontem, antes do começo da sessão do mensalão, Marco Aurélio voltou à carga:

- Como ele (Joaquim Barbosa) vai coordenar o tribunal (quando se tornar presidente)? Como ele vai se relacionar com os demais órgãos, com os demais poderes? Não sei. Mas vamos esperar. Nada como um dia atrás do outro.

No intervalo da sessão, ele ainda acrescentou:

- Eu fico muito preocupado diante do que percebo no plenário. Eu sempre repito: o presidente é um coordenador. Ele é algodão entre cristais. Ele não pode ser metal entre cristais.

A resposta de Joaquim veio à noite. Terminada a sessão, o relator devolveu as declarações do colega de forma bem dura, e por escrito:

- Um dos principais obstáculos a ser enfrentado por qualquer pessoa que ocupe a presidência do Supremo tem por nome Marco Aurélio Mello. Para comprová-lo, basta que se consultem alguns dos ocupantes do cargo nos últimos 10 ou 12 anos. O apego ferrenho que tenho às regras de convivência democrática e de Justiça me vem não apenas da cultura livresca, mas da experiência concreta da vida cotidiana, da observância empírica da enorme riqueza que o progresso e a modernidade trouxeram à sociedade em que vivemos, especialmente nos espaços verdadeiramente democráticos.

O relator ainda chamou o colega de exibicionista e fez referência ao parentesco de Marco Aurélio com o ex-presidente Fernando Collor, de quem é primo.

- Caso venha a ter a honra de ser eleito presidente da mais alta Corte de Justiça do país, estou certo de que de mim não se terá a expectativa de decisões rocambolescas e chocantes para a coletividade, de devassas indevidas em setores administrativos, de tomadas de posição de claro e deliberado confronto para com os poderes constituídos, de intervenções manifestamente "gauche", de puro exibicionismo, que parecem ser o forte do meu agressor do momento. Ao contrário de quem me ofende momentaneamente, devo toda a minha ascensão profissional a estudos aprofundados, à submissão múltipla a inúmeros e diversificados métodos de avaliação acadêmica e profissional. Jamais me vali ou tirei proveito de relações de natureza familiar.

"divergência em colegiado é natural"

Ontem, Marco Aurélio citou até mesmo um comentário que ouviu no rádio, segundo o qual o estilo beligerante de Barbosa poderia colocar em risco sua eleição como presidente da Corte. É praxe no STF que o tribunal seja presidido pelo membro mais antigo que ainda não ocupou o posto. Marco Aurélio lembrou que a eleição para presidente no STF não é por aclamação, mas disse também não acreditar no risco de Barbosa deixar de ser eleito presidente:

- Eu apenas ouvi um comentarista na CBN, um ex-colega, um magistrado. Ele colocou que estaria em risco a eleição (de Barbosa). Penso ainda que não temos esse risco como latente. Vamos aguardar.

Marco Aurélio defendeu Lewandowski:

- A divergência em colegiado é a coisa mais natural. Mas ele (Joaquim Barbosa) fica incontido. O ministro Lewandowski, justiça seja feita, mergulhou no processo. Você pode não concordar, mas é um trabalho a nível de Supremo. Vamos esperar que reine a paz.