Título: A convocação dos ricos para o pós-Kyoto
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Fonte: Correio Braziliense, 02/10/2009, Opinião, p. 18

A luta contra o aquecimento global exigirá atuação obstinada dos países industrializados entre 2010 e 2050. Juntos, terão que pagar entre US$ 75 bilhões e US$ 100 bilhões anuais às nações em desenvolvimento. É o que alerta estudo divulgado pelo Banco Mundial, segundo o qual os maiores custos de adaptação se produzirão no Extremo Oriente e no Pacífico, na América Latina, no Caribe e na África Subsaariana. O relatório foi apresentado em Bangcoc, na Tailândia, em reunião sobre mudança climática promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), ante 4 mil delegados, para discutir o documento que substituirá o Protocolo de Kyoto, que expira em 2012. Os países industrializados se comprometeram a financiar projetos nos países menos desenvolvidos para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, causadoras do aquecimento global.

Segundo a ONU, há dois possíveis cenários: um para clima mais seco, ao custo de US$ 75 bilhões; outro para clima úmido, no qual o número ascenderia a US$ 100 bilhões. ¿O acesso a um financiamento necessário é crítico para que os países em desenvolvimento possam enfrentar o aumento das secas, as doenças e a redução da produtividade agrícola que vai gerar a mudança climática¿, assinalou o vice-presidente para Desenvolvimento Sustentável do Banco Mundial, Katherine Sierra. Ele precisou que o financiamento do sucessor do Protocolo de Kyoto igualará ao que atualmente gasta a instituição em ajudas para o desenvolvimento. O efeito adverso da mudança climática na produção de alimentos causará a fome de 25 milhões de crianças em 2050, se não forem tomadas medidas para evitá-lo, advertiu entidade internacional especializada. O estudo afirma que os moradores dos países em desenvolvimento terão acesso a 2.410 calorias diárias em 2050, 286 a menos que em 2000; na África, serão 392 menos; nos países industrializados, 250 menos. Os líderes do G-20 acordaram na semana passada, em Pittsburg (EUA), a doação de US$ 2 bilhões para o combate à fome, enquanto a ONU anunciou uma cúpula sobre o tema em novembro.

O estudo deixa claro que realizar as ações em favor da adaptação dos países em desenvolvimento economizará custos no futuro e reduzirá riscos inaceitáveis. Pelo posto, mais do que nunca, a moderação, adaptação e desenvolvimento são necessários para que os países pobres sejam menos vulneráveis à mudança climática e para não pôr em perigo os objetivos de desenvolvimento do milênio fixados pela ONU. Os custos são factíveis para os países ricos, a julgar pelos respectivos Produtos Internos Brutos (PIB). Só que, no papel, tudo são flores. Espera-se que, na hora do desembolso, as chaves dos cofres desses países estejam em mãos ponderadas e comprometidas com o bem-estar do planeta. Sem isso, tudo o que se discute agora se tornará uma grande utopia.