Título: Número de refugiados sírios deve dobrar
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Fonte: O Globo, 28/09/2012, Mundo, p. 40

Segundo a ONU, até o fim do ano, deslocados podem atingir a marca de 700 mil

DAMASCO e GENEBRA Um dia após a quebra de mais um recorde de violência na Síria - com ativistas denunciando ao menos 343 mortes na quarta-feira -, outro alerta, não menos preocupante. Segundo estimativas do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), o número de deslocados sírios, aglomerados em campos nos países vizinhos, pode dobrar e chegar a 700 mil até o fim deste ano.

Atualmente a cerca de 294 mil pessoas já deixaram o país, e a maioria está alocada em campos de refugiados na Turquia e na Jordânia , além do Líbano. E o cenário tem, ainda, outro agravante: numa Europa em crise, o Acnur disponibiliza apenas US$ 141,5 milhões para prestar assistência a essas pessoas - apenas 29% do montante de US$ 488 milhões requerido pela organização, segundo o porta-voz Panos Moumtzsis.

- Estamos correndo contra o tempo - sentenciou, em Genebra.

Na Síria, a violência se manteve. Segundo o grupo opositor Comitês de Coordenação Local (CCL), entre os 343 mortos registrados anteontem, ao menos 199 eram civis. E 162 mortes ocorreram em Damasco.

Com base em relatos recebidos de ativistas, a entidade afirmou que mais 55 pessoas foram mortas em zonas rurais ao redor de Damasco - incluindo pelo menos 40 que parecem ter sido executadas a sangue frio na localidade de al-Dhiyabia, a sudeste da capital. Mas a impossibilidade de checar as informações trouxe versões conflitantes. Um vídeo publicado ontem na internet mostrou fileiras de corpos ensanguentados no vilarejo, envoltos em cobertores. As vítimas pareciam ser homens adultos, de várias idades. E alguns ativistas insistem em contabilizar até 107 pessoas mortas em al-Dhiaybia, num episódio que atribuem a um massacre cometido por milicianos pró-regime.

HEZBOLLAH AUMENTA AÇÕES

O banho de sangue levou unidades rebeldes do Exército Livre da Síria (ELS) a lançarem, ontem à noite, uma nova contraofensiva para tentar expulsar as forças do regime de Bashar al-Assad da cidade de Aleppo, no Norte do país. Segundo testemunhas, milhares de homens estariam envolvidos na operação, deflagrada do distrito de Izaa, de onde estavam disparando morteiros contra as tropas. Iniciativas semelhantes, entretanto, esbarraram não só na supremacia bélica do regime como na falta de munição das forças opositoras.

E o regime, porém, não parece estar sozinho. Fontes ouvidas pelo jornal "Washington Post" afirmam que o grupo xiita libanês Hezbollah tem enviado cada vez mais guerrilheiros para ajudar Assad a sufocar a oposição. E bastiões do grupo em território libanês, como cidades ao longo do Vale do Bekaa e do Sul do Líbano, já teriam assistido - em silêncio - a funerais de combatentes.

- O Hezbollah tem sido ativo em seu apoio ao regime sírio, usando sua própria milícia - afirmou uma fonte política libanesa ligada à oposição. - Eles estão muito envolvidos no combate.

Nos Estados Unidos, porém, oficiais americanos hesitam em confirmar. Fontes da inteligência concordam que tanto a milícia xiita quanto a Guarda Revolucionária do Irã estão aumentando seu envolvimento no conflito da Síria. Há dois dias, porém, o enviado especial da ONU e da Liga Árabe ao país, Lakhdar Brahimi, disse, na Assembleia Geral da ONU, que a "situação síria estava ruim e ficando pior".