Título: Ministros defendem Lewandowski em embate
Autor: Éboli, Evandro; Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 27/09/2012, País, p. 3

Para Marco Aurélio, Barbosa precisa respeitar colegas e policiar linguagem

O relator do mensalão, Joaquim Barbosa, e o revisor, Ricardo Lewandowski, tiveram ontem um novo e duro embate. Dessa vez, o estopim foi o voto do revisor absolvendo o ex-tesoureiro do PTB Emerson Palmieri. O relator ficou irritado e recomendou que o colega fizesse seu trabalho direito. Marco Aurélio Mello entrou na discussão para pedir ao relator que policiasse sua linguagem e parasse de ofender as pessoas. O presidente da Corte, Carlos Ayres Britto, e o decano, Celso de Mello, também saíram em defesa do revisor. Na primeira parte da sessão, Lewandowski recomendou que Barbosa não saísse tanto do plenário para entender melhor seu voto. Barbosa insinuou que as falas do colega eram enfadonhas.

Quando Lewandowski disse não haver prova nos autos de que Palmieri captava dinheiro para o PTB, Barbosa afirmou que havia uma lista do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, na qual Palmieri constava como recebedor dos recursos.

- Se Vossa Excelência não admite a controvérsia, Vossa Excelência deveria propor à comissão de redação do STF que abolisse então a figura do revisor. Vossa Excelência quer que eu coincida com todos os pontos de vista de Vossa Excelência? Não é possível isso - protestou Lewandowski.

- Estou lembrando a Vossa Excelência o que há nos autos - retrucou Barbosa.

- Vossa Excelência não precisa me lembrar de nada, eu li os autos - respondeu o revisor.

Relator acusa vista grossa

Ayres Britto defendeu Lewandowski, salientando que um mesmo fato pode ser interpretado de várias maneiras. A intervenção atiçou mais o relator:

- Nós, como ministros do Supremo, não podemos fazer vista grossa a respeito do que consta dos autos.

Foi a vez de Marco Aurélio afrontar Barbosa:

- Somos 11 juízes, ministro. Ninguém faz vista grossa neste plenário. Tem que respeitar a manifestação dos colegas.

Em seguida, o relator disse que o revisor estava contornando os fatos. Marco Aurélio usou a palavra mais uma vez.

- Não, não está contornando. Cuidado com as palavras - alertou.

- Eu respondo por minhas palavras - disse Barbosa.

- O senhor está num colegiado de alto nível. Vamos respeitar os colegas e respeitar a instituição - afirmou Marco Aurélio.

Barbosa ponderou, dizendo que estava apenas fazendo uma observação, sem ofender. Marco Aurélio retrucou que fazer observação não era problema, e sim a "agressividade" usada.

Celso de Mello tentou apaziguar, dizendo que a "oposição dialética" entre os ministros era natural num colegiado. Depois, o relator disse que Lewandowski deveria distribuir seus votos antes do julgamento, para facilitar o acompanhamento dos colegas.

- Ao final eu farei, segundo a obrigação regimental que eu tenho. Vossa Excelência não dirá a mim o que eu tenho de fazer. Vossa Excelência já proferiu seu voto, eu proferirei meu voto.

- Faça-o corretamente - sugeriu Barbosa.

- E, por favor, não me dê conselhos - retrucou o revisor.

Foi quando Marco Aurélio interferiu novamente em prol de Lewandowski:

- Policie a sua linguagem. Não há campo para Vossa Excelência ficar agredindo os colegas.

- Estou usando muito bem o vernáculo, mas eu uso sem hipocrisia, só isso - respondeu Barbosa.

O relator ainda acusou o revisor de ter medido o voto para ser do mesmo tamanho que o seu. Lewandowski se disse "estupefato" com a afirmação.