Título: Atenas e Madri protestam, e Bolsas caem
Autor: Haidar, Daniel
Fonte: O Globo, 27/09/2012, Economia, p. 27

Mais de 100 são presos em violenta manifestação de 70 mil na capital grega. Mercados recuam até 3,92%

Protestos contra novas medidas de austeridade em Atenas e Madri - na capital espanhola, pelo segundo dia consecutivo - reacenderam os temores dos mercados financeiros com a crise na Europa, depois de um período de calma durante as férias de verão (no Hemisfério Norte) e derrubaram bolsas dos dois lados do Oceano Atlântico. As quedas foram de 0,33%, do índice Dow Jones, a 3,92% em Madri. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), chegou a cair 1,28% na mínima do dia, ficando abaixo dos 60 mil pontos. Mas fechou praticamente estável, em queda de 0,04%, aos 60.478 pontos. Em Nova York, S&P recuou 0,57%, e Nasdaq, 0,77%. Londres fechou em baixa de 1,56%, enquanto Frankfurt caiu 2% e Paris, 2,82%.

Em São Paulo, pesaram ainda as ações de grandes redes de varejo, devido à expectativa de que o financiamento oferecido por estas também sofra redução de juros, o que afetaria seu faturamento. Já o dólar avançou 0,19%, a R$ 2,035 na venda, sem intervenções do Banco Central. Em Nova York, o euro recuou 0,2%, a US$ 1,2873.

- Está se agravando a crise na Europa, porque a Espanha não pede ajuda e a Grécia não quer cortar gastos. Fica uma sensação de que a qualquer momento pode ter uma piora e esses países saírem da zona do euro - diz Pedro Galdi, analista-chefe da SLW corretora.

Na capital espanhola, depois dos violentos protestos da véspera, que resultaram em 64 pessoas feridas e 35 presas - com gritos de "Essa é a caverna de Ali Babá" e pedidos de dissolução do Parlamento -, a manifestação foi pacífica, com os organizadores distribuindo mensagens para que as pessoas mantivessem a calma. Mas uma pessoa foi presa.

Isso, porém, não ocorreu em Atenas, onde sindicatos ligados ao Partido Comunista convocaram uma paralisação de 24 horas e uma manifestação em frente ao Parlamento. Eram cerca de 70 mil pessoas, segundo o governo. Os organizadores, porém, falaram em mais de 300 mil.

Policiais da tropa de choque usaram gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes, mas estes revidaram atirando pedras e coquetéis molotov. Abrigos de ônibus foram quebrados e lixeiras, incendiadas. Oito policiais ficaram feridos, e 120 pessoas foram presas.

Cresce expectativa de socorro para Espanha

A multidão gritava "Não vamos nos submeter à troika" e "UE e FMI, fora!". Foi o primeiro protesto contra o novo governo de coalizão, que assumiu em junho. O estopim foi o novo pacote de medidas de austeridade, de ¬ 11,5 bilhões - uma exigência dos credores -, que será discutido hoje pelo primeiro-ministro, Antonis Samaras, com os demais partidos da coalizão.

- Ontem os espanhóis foram às ruas, hoje somos nós, amanhã serão os italianos, e depois, todos os povos da Europa! - disse à multidão Yiorgos Harisis, da união sindical Adedy.

Em Madri, o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, apresentará hoje o novo pacote de cortes de gastos, enquanto cresce a expectativa de que o país pedirá socorro financeiro à União Europeia (UE). O próprio Rajoy, em entrevista ao diário americano "The Wall Street Journal", disse que buscará ajuda se o custo de financiamento do país continuar elevado.

Rajoy, que estava em Nova York conversando com investidores, ficou irritado com as imagens dos protestos de terça-feira. E decidiu elogiar "a maioria dos espanhóis que não se manifesta e não sai nas manchetes dos jornais":

- Não os vemos, mas estão aí, são a maioria dos 47 milhões de pessoas que vivem na Espanha. Essa imensa maioria está trabalhando para atingir esse objetivo nacional que é sair dessa crise - afirmou Rajoy.