Título: Não tem como dirigir o Brasil sem meter o bico em São Paulo
Autor: Farah, Tatiana ; Uribe, Gustavo ; Amorim, Silvia
Fonte: O Globo, 02/10/2012, O País, p. 10

Com Lula, Dilma sobe ao palanque de Haddad e rebate crítica de Serra

SÃO PAULO Na reta final da campanha eleitoral, a presidente Dilma Rousseff participou ontem do primeiro comício da eleição para a prefeitura de São Paulo, subindo o tom das críticas aos adversários. Dilma respondeu ao candidato do PSDB à prefeitura, José Serra, que havia dito que a presidente não deveria "meter o bico" na eleição de São Paulo. Em comício do candidato petista Fernando Haddad, na periferia da Zona Leste, Dilma usou a expressão "meter o bico" por três vezes e, em resposta ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, defendeu o legado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

- Estou aqui hoje metendo o meu bico nessa eleição porque, para o Brasil, São Paulo é um fato, um acontecimento e, sobretudo, um lugar onde moram milhões de brasileiros. Não tem como dirigir o Brasil sem meter o bico em São Paulo -disse a presidente, contando aos militantes que morou na região durante o regime militar e onde ficou presa.

Sem citar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que em artigo afirmou que a presidente sofria com o legado deixado por Lula, Dilma afirmou:

- Se tem um homem neste país que fez a diferença, esse homem se chama Luiz Inácio Lula da Silva. Lula deixou para mim uma herança bendita. Tem muita gente por aí que tenta mudar essa situação.

- Eu não falo mal de ninguém. Esse pessoal que vive falando mal dos outros, a gente deve ficar de olho aberto com eles. São intolerantes, gostam de ser o "joãozinho do parto certo", não respeitam outras pessoas - disse Dilma, ao lado de Lula.

Estavam no palanque de Haddad, os ministros Aloizio Mercadante (Educação) e Marta Suplicy (Cultura), o presidente nacional do PT, Rui Falcão, o presidente da Câmara, Marco Maia, e o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto.

Em seu discurso, além de atacar os tucanos, Lula voltou sua munição contra o candidato Celso Russomanno, do PRB. Sem citar o candidato, Lula o comparou com a prefeita de Natal, Micarla de Souza. Assim como Russomanno, Micarla (PV) é ex-apresentadora de televisão e é a prefeita de capital com a maior rejeição no país.

- Uma coisa é estar na televisão e dizer que quer melhorar a vida do povo. Outra coisa é ser prefeito. Micarla de Souza, em Natal, teve 95% de rejeição porque não conseguiu fazer absolutamente nada. Quero ver essa gente tratar questões como enchente, transporte e Educação.

Lula acusou ainda o PSDB de tentar criar animosidade entre ele e Dilma:

- Eles falaram mal da Dilma, o que não podiam falar. Depois passaram a achar que eram amigos dela e tentaram nos separar. Não se conformam com o fato de termos conseguido fazer no Brasil o que prometeram a vida inteira e não conseguiram.

De acordo com Lula, o país cresceu "contra a vontade" do PSDB. Ele fez críticas diretas contra o tucano Serra:

- Serra não está a fim de ser prefeito. Por que saiu da prefeitura? Se a prefeitura fosse o que eles mostram na televisão tudo ia ser maravilhoso e ninguém ia deixar São Paulo.

Segundo a Polícia Militar, 3 mil pessoas estiveram no comício. O evento será usado no último programa eleitoral de Haddad.

A presença do ex-presidente Lula e de Dilma na campanha acirrou os ânimos entre Serra e Haddad, que disputam uma das vagas no segundo turno. Serra reagiu a uma provocação feita por Lula no sábado, em um comício de Haddad, e disse que o ex-presidente está aposentado "há muito tempo" e "aflito" com o julgamento do mensalão. Já Haddad saiu em defesa de Dilma, que foi criticada por Serra, e cobrou do tucano "moderação na linguagem" quando falasse da presidente.

- O Lula está aposentado há muito tempo e, agora com o mensalão (...). Ele está aflito com isso. Então se especializa em falar mal dos outros - afirmou o candidato do PSDB, que completou: - O Lula, oito anos presidente da República, vem em praça pública me atacar. É baixaria.

Troca de farpas

No sábado, Lula disse no palanque de Haddad que Serra deveria se aposentar da vida pública após a eleição municipal, insinuando uma derrota do tucano. As pesquisas eleitorais mostram um empate técnico entre Haddad e Serra. No domingo, foi a vez do candidato do PSDB subir o tom e atacar Dilma. Ele disse que a presidente, para ajudar Haddad, usa o governo federal como se fosse "propriedade privada". Haddad reagiu:

- Nós temos de moderar a linguagem. O candidato do PSDB está sendo muito indelicado com a Dilma Rousseff.

Já Russomanno chamou Haddad ontem de mentiroso e disse que a estratégia usada pelo adversário é o "esgoto" da política. Em atos de campanha e na propaganda do horário eleitoral, Haddad tem dito que Russomanno, se eleito, fará os cidadãos que moram mais longe do trabalho pagar mais para usar o transporte público do que os que moram nas regiões mais ricas da cidade. Também ontem Serra recebeu o apoio do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.