Título: BC injeta R$ 30 bilhões para aumentar o crédito e turbinar a economia brasileira
Autor: Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 15/09/2012, Economia, p. 35

Autoridade monetária flexibiliza o compulsório dos bancos do país para forçar a queda dos juros para os consumidores

BRASÍLIA Depois de anunciar o fim do ciclo de cortes dos juros, o Banco Central (BC) lançou mão de outra medida para impulsionar a economia do país: colocará R$ 30 bilhões em circulação nos próximos meses para aumentar o crédito ao consumidor com a flexibilização dos depósitos compulsórios - parte do dinheiro dos clientes que os bancos são obrigados a deixar nos cofres da autoridade monetária. O BC acabou com a alíquota de 6% do compulsório adicional sobre depósitos à vista. E reduziu o percentual do compulsório adicional sobre depósitos a prazo, de 12% para 11%.

A autoridade monetária avisou que pretende acabar com essa exigência adicional e que quer que o dinheiro liberado com a medida seja transformado em queda de juros do consumidor.

- Os bancos terão melhores condições de ofertar mais crédito com juros menores, tanto para pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas. Esperamos uma queda dos juros - disse o diretor de Política Monetária do Banco Central, Aldo Mendes, com uma clareza que não é comum para um integrante da autarquia.

compulsório continua elevado

A mudança sobre os depósitos à vista já está em vigor. Já a redução sobre aplicações a prazo surtirá efeito a partir de outubro. O BC permitiu ainda que os bancos, em vez de recolher o depósito compulsório em dinheiro vivo, possam entregar Letras Financeiras (LF) para cumprir até metade das exigências. A LF é um tipo de papel novo, emitido por instituições financeiras que, geralmente, é comprado por grandes investidores,como fundos de pensão, e aumentam a liquidez dos bancos. Com isso, as instituições ficam com mais dinheiro em caixa para emprestar e aquecer a economia.

Ontem, o próprio BC divulgou que o Brasil cresceu 0,42% em julho, em relação ao mês anterior. O Índice criado pela autoridade monetária, o IBC-Br, para guiar os diretores da autarquia na hora de decidir a política de juros do país, mostra uma reação depois dos vários estímulos dados pelo governo Dilma.

- O governo tem dado bastante incentivo e não sei se seria preciso usar um instrumento de curto prazo para mexer na política econômica e incentivar a economia, por isso, acho que é uma questão mais estrutural - avaliou o economista-chefe da Corretora Votorantim, Roberto Padovani.

De acordo com Aldo Mendes, é assim que o Banco Central encara a mudança. No entanto, mesmo com a redução, ele concorda que o Brasil ainda continuará a ter compulsórios elevados em comparação a outros países.

- Nós vamos continuar a ter compulsórios bancários acima de outros países, porque entendemos que é importante para a estabilidade financeira - afirmou o diretor Aldo Mendes.

Quando a crise mundial de 2008 estourou, mexer nos compulsórios foi o instrumento encontrado para ajudar o país a passar pelas turbulências com o menor dano possível.

- Como não querem mais mexer na Selic, cortam juros de forma camuflada - disse o economista-chefe da corretora Gradual, André Perfeito.

Um RITMO dA ECONOMIA AINDA lento

Ele destacou que o ritmo de atividade ainda está muito baixo. A previsão do mercado financeiro é de um crescimento de apenas 1,62% neste ano.

O IBC-Br de 0,42% em julho, considerado tímido por alguns analistas, foi comemorado por outros:

- O IBC-Br reforça a ideia de que a economia brasileira está em uma rota de recuperação e pode encerrar 2012 com um crescimento de mais de 5% anualizado, porque os dados de atividade devem ser bem fortes daqui para a frente - disse o economista do Banco Espírito Santo (BES) Flávio Serrano.

BC está otimista, diz analista

Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luiz Octávio Leal, os dados desta semana sobre a atividade econômica favoreceram o Banco Central:

- Se alguma coisa ajudou o Banco Central brasileiro nessa semana foram os dados de atividade, corroborando a sua perspectiva de que haverá uma recuperação mais intensa da economia brasileira no segundo semestre desse ano - afirmou Leal. - Com isso, a previsão de um crescimento médio do país de 4% anualizado (ao final do ano) já estaria se verificando, reduzindo a preocupação da autoridade monetária com essa variável.