Título: Dólar se aproxima de R$ 2; BC intervém
Autor: Sorima Neto, João; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 15/09/2012, Economia, p. 36

Moeda fecha em queda de 0,39%. Governo teme um novo "tsunami monetário" e pode reativar IOF

João Sorima Neto, Lino Rodrigues e Vivian Oswald

SÃO PAULO e brasília O anúncio do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de que irrigará a economia dos Estados Unidos com a compra de US$ 40 bilhões em títulos mensalmente fez, no Brasil, o dólar comercial atingir ontem R$ 2,009, menor patamar desde 2 de julho. Mesmo após duas intervenções do Banco Central (BC) no mercado, a cotação da moeda encerrou com recuo de 0,39%, a R$ 2,011 para venda. A possibilidade de um novo "tsunami monetário" deixou em alerta a equipe econômica. Na manga, a pasta conta com um instrumento que usou recentemente para criar barreiras à enxurrada de dólares provocada por medidas semelhantes adotadas pelo Fed: a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre empréstimos contraídos no exterior.

A taxação de empréstimos com prazo de até cinco anos foi adotada em 2011 e revogada há alguns meses devido à queda do fluxo de recursos após o agravamento da crise global. Atualmente, o tributo só incide sobre as linhas de até dois anos. Por enquanto, a avaliação é que não há necessidade de qualquer medida adicional e que ainda é cedo para avaliar o impacto da ação do Fed, mas a ordem é acompanhar o fluxo financeiro com lupa. Técnicos do governo admitem que pode ser feito um ajuste para ampliar o prazo de duração dos empréstimos sobre os quais incida o tributo.

Ontem, no mercado de câmbio, foram dois leilões de contratos de swap cambial reverso, que equivalem a compras de dólar no mercado futuro. Logo após a atuação do BC, a moeda atingiu R$ 2,022, para depois desacelerar. O BC já fizera um leilão de swap reverso na quarta-feira. Desde 31 de maio o BC não promovia dois leilões - no total de US$ 2,15 bilhões - em um só dia. Mas, em maio, nenhum contrato foi vendido. A cotação de R$ 2 é considerada pelo mercado o piso informal do BC.

Bovespa tem sétima alta, de 0,24%

Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o Ibovespa, índice de referência, fechou em alta de 0,24% aos 62.105 pontos. Foi o sétimo pregão de valorização. O volume negociado foi expressivo e chegou a R$ 12,5 bilhões, bem acima da média diária. Na semana, a alta foi de 6,5%.

- A tendência é muito forte de baixa da moeda americana por aqui e no exterior, após o anúncio do Fed. Só os leilões de swap cambial se mostraram insuficientes para frear a tendência de baixa. O governo terá que tomar medidas macroprudenciais, elevando o IOF de algumas operações de captação da moeda no exterior, por exemplo - avalia Ovídio Soares, operador de câmbio da Interbolsa do Brasil.

Para Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, o BC terá que gastar muita munição se quiser manter o piso informal de R$ 2 da moeda americana:

- Os investidores vão voltar para as operações de risco, que abandonaram no último ano, depois do estímulo do Fed. Por isso, a tendência é que deixem o dólar.

Em São Paulo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o governo continuará praticando uma política cambial ativa para garantir uma taxa competitiva para a indústria brasileira, enquanto o câmbio flexível não for adotado por outros países. Segundo ele, algumas economias têm manipulado o câmbio para levar vantagem no mercado internacional.

- Vamos continuar tomando medidas sobre o câmbio até os demais países adotarem um regime cambial flexível - disse Mantega a empresários, em evento da revista "Exame", mas sem fazer menção direta à decisão do Fed.

A presidente Dilma Rousseff, que havia confirmado presença no evento, cancelou sua participação no fim da manhã. Segundo sua assessoria, ela antecipou uma viagem a Porto Alegre por motivos familiares, mas não foram dados detalhes. Dilma falaria em almoço para empresários, que pagaram para participar do evento. Nenhum representante do governo foi indicado para substituí-la. Mantega foi embora antes do almoço. O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, também participou do evento, mas não foi escalado para substituir Dilma.