Título: Dilma evita falar em apagão, mas cobra explicações
Autor: Fariello, Danilo; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 05/10/2012, Economia, p. 31
Para Lobão, blecautes são "mera coincidência". ONS vê "apaguinho"
A presidente Dilma Rousseff cobrou do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, uma investigação rigorosa das causas do apagão em áreas das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste e no Distrito Federal, mas o governo se esforçou ontem para minimizar o impacto da falta de energia que atingiu o Brasil nas últimas semanas. Segundo Lobão, os recentes blecautes foram consecutivos por "mera coincidência". O diretor-geral do Operador Nacional do Setor Elétrico (ONS), Hermes Chipp, chamou o episódio de quarta-feira, que deixou parte do país sem luz, de "apaguinho", porque, segundo ele, o desligamento foi seletivo e ordenado.
Como ex-ministra de Minas e Energia, Dilma controla o setor com lupa. Ela pediu a Lobão resposta rápida para evitar novos cortes de luz no Brasil. O governo, porém, ainda não apresentou a amplitude do problema que reduziu em 6% a carga de energia do país naquela noite. Só hoje serão conhecidas com exatidão as áreas afetadas e quantas pessoas ficaram foram atingidas. Relatório do ONS deve esclarecer as causas do evento em dez dias. O relatório sobre o apagão que afetou Norte e Nordeste em 22 de setembro, ainda não está pronto.
"Episódios lamentáveis"
O próprio Lobão reconheceu que teve de enfrentar os "dissabores" do blecaute que atingiu Brasília ontem no início da tarde, pouco antes da reunião do Conselho de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), marcado às pressas para debater o apagão de quarta-feira.
- São episódios que lamentavelmente acontecem, mas não comprometem a segurança geral do sistema - afirmou Lobão.
Dilma tem aversão à palavra apagão e, sempre que quer atacar o governo de Fernando Henrique Cardoso, refere-se ao racionamento de energia de 2001 a 2002. No mês passado, ao responder a FH, que criticou o governo Lula, Dilma afirmou que não recebeu em 2011 "um país sob intervenção do FMI ou sob a ameaça de apagão".
No lançamento do programa de redução das contas de luz, Dilma disse que o benefício só poderia vir após reorganização do setor de energia, a partir de 2003. Segundo ela, naquela época, o país tinha "sérios problemas de abastecimento de energia e amargara oito meses de racionamento". Dilma disse que, após a reestruturação, o governo eliminou o risco de racionamento e criou condições para investir em geração, distribuição e transmissão.
A discussão semântica voltou à pauta do governo ontem, que aboliu o termo "apagão", por considerá-lo associado ao governo FH. Já em 2009, quando estados ficaram sem luz também por falha na transmissão, a então ministra-chefe da Casa Civil definiu o episódio como "blecaute". Lobão escolheu ontem o termo "perturbação" no sistema elétrico. Já Chipp minimizou o evento ao diferenciá-lo do de 2009:
- Não gosto do nome, porque hoje, quando se desliga 10 megawatts (MW) ou 10 mil MW, tudo é apagão. Não é. Apagão é o que houve em 2009, que a gente nem chama de apagão, mas de blecaute. Apagão é o que houve em 2001, o racionamento. Não foi apagão agora.
Segundo Chipp, na quarta-feira foi adotado o critério de priorizar regiões para desligar a energia. Por esse sistema, definido pelas distribuidoras, regiões com mais hospitais ou linhas de metrô são preservadas para evitar uma queda total no sistema, como houve em 2009, quando esse esquema falhou.
Mesmo considerando os casos recentes como "acidentes", Lobão determinou ontem a criação de um grupo de trabalho com os atores do setor elétrico para desenvolver sistemas de prevenção. Segundo ele, há um plano de contingência para evitar riscos no setor elétrico no dia das eleições:
- Nosso sistema é bom. É firme, é forte. Mas ele está sujeito a incidentes dessa natureza. Sempre que ocorre episódio semelhante, retiramos lições úteis.
Ações em queda
Segundo Chipp, a origem do recente apagão foi um defeito num equipamento no sistema de transmissão de Furnas em Foz do Iguaçu (PR), que não suportou uma sobrevoltagem e ocasionou um incêndio que afetou diversos transformadores. O presidente de Furnas, Flavio Decat, disse que o equipamento que falhou estava com manutenção em dia.
Ações do setor perderam R$ 2,2 bilhões em valor de mercado ontem na Bovespa. Entre os motivos, está o apagão. Ações preferenciais (sem direito a voto) da Eletrobras caíram 3,25%, enquanto Light ON (com voto) perdeu 2,54%.