Título: Campos: polarização entre o PT e o PSDB já acabou
Autor: Souza, André de ; Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 09/10/2012, País, p. 3
Governador criticou Dilma, ainda não falou com Lula e elogiou FHC
RECIFE Um dia depois de as urnas confirmarem o crescimento do PSB, o presidente do partido e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, mandou recados políticos para todos os lados. Afirmou que a polarização entre PT e PSDB está superada; apontou o "baixo crescimento" nos dois primeiros anos do mandato da presidente Dilma Rousseff; não demonstrou disposição em falar por agora com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após os atritos das eleições municipais; e elogiou os governos do tucano Fernando Henrique Cardoso. Mesmo assim, Campos afirmou que o rompimento com o PT ocorreu apenas em âmbito local - na disputa pela prefeitura do Recife - e que "não é hora" de tratar da sucessão presidencial em 2014.
O discurso de Campos, que deseja ser candidato à Presidência da República nas próximas disputas, é respaldado pelo desempenho do PSB nas eleições municipais. Em oito anos, a quantidade de prefeitos eleitos pelo partido mais do que dobrou: foram 176 em 2004 contra 433 no último domingo. Em 2008, o PSB elegeu 310 prefeitos. Em Recife, Campos impôs uma dura derrota ao PT, que governa a capital pernambucana há 12 anos.
PSB APOSTARÁ EM CANDIDATOS PRÓPRIOS
O governador lançou candidato próprio em meio à crise dos petistas - divididos e obrigados a aceitar uma candidatura imposta pela executiva nacional do partido - e obteve êxito nas urnas com o desconhecido Geraldo Julio (PSB), secretário de Campos, eleito no primeiro turno. O senador Humberto Costa (PT) ficou apenas na terceira posição. A eleição em Recife levou ao rompimento entre PT e PSB e ao distanciamento momentâneo entre Campos e Lula.
Já vigora na executiva nacional do PSB a ideia de que, nos próximos pleitos, o partido deve apresentar candidatos próprios em todas as cidades onde a eleição é decidida em dois turnos - 14 capitais e 59 cidades grandes e médias. As alianças só seriam formadas no segundo turno.
- Foi assim que o PT cresceu. É um erro não lançar candidatos próprios - afirmava ontem um dirigente nacional do PSB.
Amanhã, em Brasília, a executiva nacional do PSB se reúne para decidir as estratégias da sigla para o segundo turno destas eleições municipais. Em entrevista ontem na sede provisória do governo de Pernambuco, no Centro de Convenções em Recife, Campos, amigo próximo do senador tucano Neves (MG), também pré-candidato à Presidência, elogiou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso:
- Nossa divergência com o PSDB no plano nacional não é de hoje, mas isso não nos impede de reconhecer a importância dos governos de Fernando Henrique. Ele deixou um legado ao Brasil que foi importante, inclusive, para o êxito de Lula - disse, citando entre os avanços "a universalização do acesso ao ensino". - A velha política deixa de reconhecer isso.
"A RELAÇÃO É DE RESPEITO COM LULA"
Sobre Lula, Campos disse que não houve rompimento e que eles ainda não se falaram por "falta de tempo":
- Não há porque falar de reaproximação porque não nos distanciamos. A relação é de respeito com Lula. Nossa relação nunca foi afetada em razão das candidaturas próprias do PSB onde o PT tinha candidatos - afirmou.
O governador voltou a destacar o crescimento do PSB e ressaltou o surgimento de novas lideranças nestas eleições. Campos não deu qualquer indicação de retomada da aliança com o PT em Recife e, no plano nacional, criticou o duelo entre petistas e tucanos:
- A leitura de resultados será feita com maior clareza a partir do segundo turno, mas fica evidente que essa polarização (entre PT e PSDB) está superada em muitos lugares. A polarização de São Paulo não é uma verdade absoluta, e Belo Horizonte é um exemplo disso - disse Campos.
O governador reuniu ontem na sede provisória do governo alguns dos principais dirigentes do PSB - o primeiro vice-presidente, Roberto Amaral, e o secretário nacional, Carlos Siqueira -, para discutir estratégias para o segundo turno. O PSB tem candidato próprio na disputa em três capitais no segundo turno das eleições municipais: Fortaleza, Cuiabá e Porto Velho.