Título: Mensalão abre confronto Serra X Haddad
Autor: Amorim, Silvia ; Uribe, Gustavo
Fonte: O Globo, 09/10/2012, País, p. 8

Tucano acusa petista de tentar "abafar" escândalo; PT aposta em Dilma e prepara contra-ataque em SP

Na abertura do segundo turno em São Paulo, o processo do mensalão pautou uma troca de ataques ontem entre José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT), antecipando o tom que deverá ser adotado nas próximas três semanas. Com o escândalo escolhido como principal munição contra o PT, José Serra acusou o partido adversário de querer usar a eleição em São Paulo para "abafar" o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Fernando Haddad rebateu o ataque, dizendo que o tucano faz críticas baixas, e sustentou estar preparado para discutir ética na eleição municipal.

Os petistas apostam numa maior participação da presidente Dilma Rousseff no horário eleitoral gratuito para neutralizar o discurso tucano. Ontem, em reunião com o marqueteiro João Santana, a coordenação da campanha de Fernando Haddad começou a esboçar uma agenda de gravações para a presidente, que conta com uma aprovação de 55% dos eleitores paulistanos. As gravações serão feitas nas próximas semanas em Brasília, para não atrapalhar a agenda pública da presidente.

- O mensalão, que está presente no noticiário, na TV, no dia a dia, por que deveria ficar fora da eleição? De forma alguma. O que eles querem fazer é usar a eleição para abafar a questão do mensalão. Num segundo turno, é apropriada a discussão sobre a vida pública no Brasil, o estilo, os valores, a honestidade, o mérito, a probidade. Todos eles vão ter peso muito grande. Não há tema proscrito - atacou José Serra.

A ofensiva do candidato faz parte da estratégia traçada pela campanha tucana de explorar a fase atual do julgamento da Suprema Corte para fragilizar Fernando Haddad. Os tucanos avaliam que esta é a etapa com maior potencial de desgaste para o PT desde o início da análise do caso pelo STF, uma vez que deverá sair nos próximos dias a condenação do ex-ministro José Dirceu por corrupção ativa. O tema também está previsto para ocupar espaço na propaganda eleitoral na TV, que começa no próximo sábado.

Aliado ao discurso ético, o PSDB planeja levar às ruas e ao horário eleitoral também uma campanha de comparação de gestões do PSDB e do PT. A ideia é reforçar em José Serra a imagem de gestor competente e preparado, e colar no PT e em Fernando Haddad o rótulo de partido que promete, mas não realiza. Para tentar reduzir a rejeição nas regiões mais pobres da cidade, o candidato intensificou um discurso social com foco na defesa da população mais carente.

- A Zona Leste não é reduto do PT. O PT perdeu as duas últimas eleições em São Paulo. Nós fizemos muito mais pela periferia - afirmou o candidato do PSDB.

Ao lado de José Serra, o governador Geraldo Alckmin (PSDB), principal cabo eleitoral tucano em São Paulo, será ainda mais exigido nas atividades de rua. Ontem, antes de palestra no Rio, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que não fará campanha no dia a dia, mas estará ao lado de Serra sempre quando o candidato quiser.

No segundo turno, a campanha do candidato do PT vai intensificar também o confronto entre as gestões do PT e do PSDB em São Paulo. O diagnóstico de membros da campanha eleitoral é que a defesa das conquistas da administração do PT à frente da prefeitura de São Paulo, como a criação do bilhete único e o aumento do número de vagas nas creches, poderá levar o partido a recuperar o voto de simpatizantes do PT que votaram no primeiro turno no candidato do PRB, Celso Russomanno.

haddad ataca mensalão tucano, em minas

Diante da ofensiva adversária, Fernando Haddad, que dedicou ontem o dia para entrevistas - foram 16 ao todo -, afirmou que não vai deixar de responder aos ataques relacionados à ética e usou o mensalão do PSDB, em Minas Gerais, como contra-ataque.

- Não vou deixar de responder a esses ataques baixos que o José Serra sempre faz. Ele fez à presidente Dilma Rousseff e está fazendo a mim. Eu estou sendo atacado por José Serra há 45 dias, estou querendo discutir a cidade. Mas tenho direito a defender a minha honra e a minha reputação, sobre as quais não pairam dúvidas - rebateu Haddad, ao lembrar de outro escândalo:

- Tanto a imprensa quanto o Supremo Tribunal Federal vão cumprir o seu papel quando se trata de punir o mensalão do PSDB também. As instituições têm que funcionar para todo mundo. O mensalão começou em 1998 com o PSDB em Minas Gerais. Não posso me conformar com o fato de que o mensalão seja colocado debaixo do tapete - completou o petista.

O candidato do PT acusou ainda as administrações do atual prefeito, Gilberto Kassab (PSD), e de José Serra de terem sido as piores de São Paulo "do ponto de vista da ética". O petista mostrou que vai correr atrás dos votos dos eleitores de Russomanno (PRB) e Chalita (PMDB) no segundo turno. Ele afirmou que dois em cada três votos na capital foram de eleitores que não apoiam a atual gestão.

- O eleitorado deixou claro que quer mudança na cidade. O candidato Celso Russomanno fez uma campanha pedindo a mudança na cidade de São Paulo, discordando da atual administração. O mesmo vale para o candidato Gabriel Chalita. E nós também faremos - disse.

Fernando Haddad disse ainda que, no segundo turno, fará uma discussão baseada em propostas eleitorais, sobretudo em seu plano de governo.

- O paulistano quer mudança, quer um novo rumo para São Paulo. Nós temos de cativar esse eleitor pelo nosso plano de governo, que vai focar na saúde pública, a principal bandeira da atual administração que fracassou - afirmou Fernando Haddad.

O candidato petista disse ainda que a orientação do PT neste momento é buscar os partidos da base aliada. O PT negocia os apoios de PRB, PMDB e PDT. O PSDB, por sua vez, dialoga com o PPS e com o PTB.

- Eu entendo que o PRB apoia o governo federal e critica o governo municipal. Diante disso, o cenário eleitoral é favorável. Eu acredito que há sinalizações da parte deles para que haja uma aliança em São Paulo - afirmou Haddad.